Para conseguir gostar de Anora

É preciso ligar o modo resiliência para conseguir gostar de Anora. Isto porque, para quem não está nem um pouco a fim de assistir a um filme que parece pornô, Anora exige paciência no início. Quem consegue resistir, provavelmente não deixará de dar boas gargalhadas.

Na verdade, Anora  (Mikey Madison) exige paciência no início porque as cenas que podem incomodar acabam tomando uma boa parte dos 139 minutos de duração do filme. 

Isso causa resistência por parte de muitos espectadores, que chegaram a tachar o filme de imoral ou apelativo e que sequer, até essa parte inicial, conseguiram perceber que o aparente filme pornô se revelaria uma comédia repleta de episódios que, além de muito engraçados, têm seu lado forte de originalidade.

Não se trata daquelas comédias em que é possível decifrar a cena ou o desdobramento que venha minutos a seguir, pois o mais provável seria que a maior parte da trama envolvesse o casal supostamente comprometido em gozar as delícias da vida, sem os obstáculos impostos pela falta de dinheiro, já que este não iria faltar.

O lado mais cômico não está nas palavras ou frases, mas nas situações geradas a partir das reações da personagem central diante dos desdobramentos do que seria, supostamente, uma história de amor e de riqueza, e sobretudo de mudança de vida sonhada por uma prostituta.

Para conseguir gostar de Anora com o russo amante

Para conseguir gostar de Anora com o russo amante

Contracena com Anora o insuportável Ivan  (Mark Eidelshtein), filho e, portanto, herdeiro de um oligarca russo cheio da grana, a partir de atividades, no mínimo, suspeitas.

Ivan é o retrato fiel do filhinho de papai imbecilizado, que dá risadas e repete frases vazias, e que se diz apaixonado por Anora logo que a conhece como dançarina que se prostitui e que ele convida para conhecer seu reino dourado: um luxuoso imóvel que enche os olhos de Anora.

Ela vê naquilo tudo o ideal com que sempre sonhou: uma vida luxuosa longe do falso ambiente de felicidade neon onde as dançarinas-acompanhantes disputam a atenção dos frequentadores.

Anora mereceu a estatueta

Anora mereceu a estatueta?

Não é segredo para ninguém que havia grande esperança, por parte dos brasileiros que gostam de cinema, de que o Oscar de melhor atriz fosse para Fernanda Montenegro, premiada com o Globo de Ouro pelo seu desempenho em Ainda Estou Aqui.

O filme brasileiro dirigido por Walter Salles conquistou o Oscar de melhor filme internacional, mas quem subiu ao palco para receber o prêmio de melhor atriz foi Mikey Madison.

Muito longe de ser uma beldade hollywoodiana, Mikey Madison, apesar de todas as especulações em torno de sua vitória, convenceu em seu papel como Anora, ou Ani, como a personagem prefere ser chamada.

Seu desempenho em cenas razoavelmente incômodas, como aquela em que foi amordaçada para abafar a gritaria em que se lançou com todas as forças para protestar contra a destruição do seu sonho por uma nova vida, foi bastante convincente.

Não foi a única, evidentemente. Somando tudo, não se pode atribuir sua premiação, pelo menos inteiramente, ao dinheiro que corre debaixo do pano para promover os filmes que concorrem ao cobiçado prêmio.

Hollywood está muitíssimo longe de ser um palco imune a todos os vícios, escândalos, desvios e jogadas subterrâneas, mas não se pode dizer que  Mikey Madison não é boa atriz e que essas malandragens da indústria cinematográficas teriam sido a razão principal de sua vitória, desbancando Fernanda Montenegro pelo filme brasileiro e a veterana Demi Moore por A Substância, sobre as quais havia grande expectativa de premiação.

Começo controvertido

O começo improvável do sucesso: histórico e bastidores do filme Anora

O histórico e bastidores do filme Anora começam com uma produção ousada: um orçamento de apenas US$ 6 milhões, cifra modesta em Hollywood e especialmente no contexto dos concorrentes ao troféu, segundo algumas publicações especializadas.

O diretor e roteirista Sean Baker já era respeitado no cinema independente, conhecido por retratar personagens à margem com autenticidade e sensibilidade

Antes da consagração no Oscar, o longa já havia conquistado a prestigiosa Palma de Ouro em Cannes 2024.

Esse triunfo antecipou o que viria a seguir: uma sequência de premiações de peso internacional na indústria do cinema.

Em março de 2025, na 97ª edição do Oscar, Anora levou — com destaque — cinco estatuetas: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem e Melhor Atriz (Mikey Madison).

Públicos e prêmios no histórico

Evento/PremiaçãoReconhecimento conquistado
Cannes 2024 (Palma de Ouro)Primeiro grande reconhecimento crítico
Critics Choice AwardsPrêmio de Melhor Filme
Oscar 2025Melhor Filme, Direção, Atriz, Roteiro, Montagem
Globais/StreamingEntrada no Prime Video em julho de 2025

O histórico e bastidores do filme Anora vão desde o circuito de premiações até sua chegada ao streaming, na Prime Video, em 23 de julho de 2025.

A estratégia de divulgação também se revelou extremamente eficaz. A distribuidora Neon teria investido, segundo foi noticiado, cerca de US$ 18 milhões na campanha de Oscar, três vezes, portanto, o valor da produção.

Com uma equipe enxuta, o filme conquistou alcance global, ressurgindo como um modelo de cinema independente que faz história.

A força do roteiro e da interpretação

Entre elementos determinantes está a atuação poderosa de Mikey Madison, que entregou uma performance consistente com o papel principal.

O roteiro original, escrito por Sean Baker, também se destacou: uma narrativa que desafia estereótipos, combinando sátira, comédia e drama em um retrato sensível sobre marginalização e poder.

A montagem, clara e eficiente, também foi premiada, contribuindo para a narrativa envolvente, que prende o espectador até o final surpreendente, mas simbólico.

Repercussão e controvérsia: o debate em torno de Anora

Como todo fenômeno cultural, a trajetória do filme Anora também inclui vozes discordantes.

O The Guardian, publicado em Londres (Inglaterra) qualificou o filme como “misto de charme e vazio”, questionando se merecia de fato tantos prêmios.

Já opiniões em fóruns como Reddit se revelaram divididas: alguns usuários elogiaram a profundidade crítica — especialmente no retrato das disparidades de poder e da invisibilidade social — enquanto outros acharam trama e personagens superficiais.

“Baker tem um dom para nos mostrar nossa realidade sem menosprezar as pessoas que fazem o mundo girar.”

“É o filme que precisamos em 2025.”

São opiniões divulgadas no Reddit.

Visões manifestadas em torno de Anora

Audiência sedenta por novas perspectivas
Anora trouxe para o mainstream uma história com protagonistas marginalizadas, narrando com empatia e crítica social — algo que ressoa hoje.

Cinema independente com estratégia poderosa
Com baixo orçamento, mas grande arrojo criativo, o investimento da distribuidora Neon foi decisivo para a vitória final.

Performance que não passa despercebida
Mikey Madison entregou uma atuação forte o suficiente para atropelar preconceitos institucionais.

Narrativa provocativa e emocional
A história funciona como uma reinterpretação moderna de contos de fadas — com sátira, drama, quebra de expectativa e viés social.

FAQ — Perguntas frequentes no histórico e bastidores do filme Anora

Por que o filme Anora teve tão poucas bilheterias, mesmo sendo premiado?
Apesar dos cinco Oscars e da Palma de Ouro, sua bilheteria mundial foi de cerca de US$ 40 milhões — considerada baixa diante de produções como Oppenheimer (~US$ 975 milhões) ou Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (~US$ 143 milhões).

Quais categorias Sean Baker ganhou com Anora no Oscar?
Sean Baker levou quatro estatuetas: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem.

Quando o filme ficou disponível para streaming?
Anora entrou para o catálogo da Prime Video em 23 de julho de 2025, sem custo adicional para assinantes.

4. Qual foi o investimento para campanha de Oscar?
A distribuidora empenhou US$ 18 milhões, uma verba expressiva comparada ao orçamento original de US$ 6 milhões.

Cenas hilárias

Conclusão: sensibilidade com personagens marginalizados

Surge a narrativa de uma ascensão improvável: uma produção que abraça personagens marginalizados, aposta em uma protagonista singular, e não economiza em sensibilidade narrativa.

Com poucos recursos, mas muita inteligência na estratégia de premiações e divulgação, o filme conquistou Cannes, limpou o Oscar e chegou ao streaming com aura de fenômeno.

O lado cômico-trágico surge após um início falso-pornográfico, com cenas ousadas entre os protagonistas, o que muda a trajetória da narrativa inicial e torna o filme interessante.

É preciso persistir até o final para conseguir gostar de Anora.

Sobre o Autor

Gerson Menezes
Gerson Menezes

O objetivo do Autor não é o de concentrar-se na linguagem rebuscada do tecnicismo cinematográfico, mas de apresentar o que há de melhor (ou de pior) na filmografia nacional e internacional, e concentrar-se no perfil dos personagens. As análises serão sempre permeadas pela vertente do humanismo, que, segundo o Autor, é o que mais falta faz ao mundo em que violência e guerra acabam compondo o cenário tanto dos filmes como da realidade de inúmeros países, entre os quais o Brasil.

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