A Acompanhante é um desperdício como destaque

Crítica ao moralismo com disfarce de romance cômico, o filme A Acompanhante é um desperdício que tropeça em clichês e supostas moralidades.

Dirigido por Will Slocombe, o filme A Acompanhante (The Escort) tenta se posicionar como uma comédia romântica com nuances dramáticas.

Mera tentativa frustrada, pois acaba tropeçando em seus próprios clichês e intenções moralizantes.

Superficialidades e clichês

O fracasso de um roteiro superficial

Encabeçando o elenco estão Michael Doneger, que interpreta Mitch, um jornalista obcecado por sexo, e Lyndsy Fonseca, no papel de Natalie/Victoria, uma acompanhante de luxo com diploma de Stanford.

O longa procura abordar temas que têm a ver com o enredo, como o cyberbullying e os padrões duplos de gênero.

No entanto, o tratamento superficial dessas questões e a previsibilidade do enredo enfraquecem essa proposta, que poderia ter sido muito melhor aproveitada.

Uma trama que não surpreende torna A Acompanhante um desperdício

Desde o início, o filme não se esforça para fugir das convenções do gênero.

Mitch, um jornalista fracassado e carente de propósito, é despedido do jornal onde trabalha, supostamente para salvar uma colega que não poderia ser demitida.

Começa a procurar emprego e se apresenta a uma revista, mas tem sua intenção frustrada pela diretora, que não enxerga nele as qualidades indispensáveis.

Preocupado com a possibilidade de ser, inclusive, despejado do apartamento cujo aluguel está atrasado, ele praticamente implora à diretora da revista que lhe dê uma chance de apresentar uma boa história.

Ele então vê em Natalie a oportunidade de produzir um furo de reportagem ao escrever sobre a vida que ela leva como acompanhante de luxo.

No entanto, o que começa como uma relação profissional se transforma rapidamente em um romance óbvio, onde ambos aprendem lições sobre si mesmos.

A previsibilidade domina cada aspecto da narrativa: ele redescobre sua humanidade, enquanto ela demonstra ser mais do que os estereótipos associados à sua atividade como acompanhante.

A tentativa de abordar temas sérios, como o estigma enfrentado por mulheres na indústria do sexo e as pressões sociais sobre elas, esbarra em diálogos expositivos e em um tom que muitas vezes cai no moralismo.

Embora o roteiro, assinado por Doneger e Brandon A. Cohen, insinue uma crítica às desigualdades de gênero, falta profundidade na execução.

A trama não convence

A atuação que salva o filme

O maior trunfo de A Acompanhante é Lyndsy Fonseca, a atriz no papel que dá título ao filme.

A ideia é óbvia: atrair espectadores em busca de distração recheada por trechos picantes, ou por ousadias visuais, que acabam não ocorrendo.

No entanto, ainda assim a performance de Lyndsy Fonseca é tão envolvente que quase compensa a superficialidade do roteiro.

Ela consegue transmitir inteligência, vulnerabilidade e força em igual medida, valorizando não apenas sua personagem, mas também as cenas ao seu redor.

Michael Doneger, por sua vez, tem uma atuação não mais do que mediana, o que acaba reforçando a dependência do filme na figura central da acompanhante, para manter o interesse do público.

Temas relevantes tratados de forma rasa tornam A Acompanhante um desperdício

O longa se propõe a explorar o impacto do cyberbullying e do doxing, questões relevantes na era digital, especialmente para mulheres em atividades marginalizadas.

No entanto, a narrativa não se aprofunda no debate e, rapidamente, substitui essas discussões por momentos mais leves e convenientes.

A ideia de que o amor romântico pode redimir os protagonistas acaba soando deslocada, especialmente em um contexto onde as complexidades das vidas que eles levam deveriam ser exploradas com mais nuance.

É um tratamento de temas que torna A Acompanhante um desperdício cinematográfico.

Os bastidores e as intenções do filme

Curiosamente, o roteiro foi coescrito pelo próprio protagonista, Michael Doneger, o que talvez explique a tentativa de criar um personagem masculino que, apesar de problemático, busca redenção.

Will Slocombe, conhecido por dirigir projetos de menor escala, aparentemente tentou equilibrar comédia, romance e drama, mas a direção carece de personalidade, resultando em um filme que raramente surpreende.

Há rumores de que Lyndsy Fonseca, ao aceitar o papel, fez questão de incluir nuances mais realistas na personagem, um esforço que transparece em sua atuação.

Nos bastidores, a equipe teria debatido a abordagem de temas polêmicos.

No entanto, as limitações impostas pelo formato comercial do filme teriam levado a escolhas mais seguras.

O roteiro da Acompanhante é um desperdício

Afinal, um potencial desperdiçado

The Escort tenta se destacar ao abordar um tema marginalizado no cinema mainstream, mas acaba sucumbindo a clichês e superficialidades.

Enquanto a atuação impecável de Lyndsy Fonseca oferece lampejos de qualidade, o filme como um todo carece de originalidade e profundidade.

Para quem busca um entretenimento leve, ele pode cumprir seu propósito,

No entanto, para aqueles que esperam um mergulho mais ousado nas questões sociais que levanta, A Acompanhante é uma decepção.

No final das contas, o filme é mais uma tentativa tímida de discutir temas relevantes em um formato que prioriza a fórmula ao invés da substância.

Sobre o Autor

Gerson Menezes
Gerson Menezes

O objetivo do Autor não é o de concentrar-se na linguagem rebuscada do tecnicismo cinematográfico, mas de apresentar o que há de melhor (ou de pior) na filmografia nacional e internacional, e concentrar-se no perfil dos personagens. As análises serão sempre permeadas pela vertente do humanismo, que, segundo o Autor, é o que mais falta faz ao mundo em que violência e guerra acabam compondo o cenário tanto dos filmes como da realidade de inúmeros países, entre os quais o Brasil.

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