Em um mundo em que tanta gente, ideologicamente doutrinada pelo negativismo, insiste em contestar que as experiências de vida e a forma como somos tratados influenciem comportamentos, o que acontece no filme Amores Inversos parece mentira.
A história da solitária Johanna em Amores Inversos parece mentira
O meio social, as companhias, a falta de solidariedade, de apoio e até de afeto, e uma série de outras circunstâncias, podem até não ser decisivas, porque outras experiências de vida podem, eventualmente, estar envolvidas.
Mas que o meio social e as vivências exercem grande influência no sentido de moldar comportamentos, e até direcionar vidas, quanto a isso não resta a menor dúvida.
Johanna Parry é uma mulher solitária, com baixíssima autoestima, que passou anos de sua vida dedicando-se a cuidar de idosos e de suas famílias.
Uma dessas pessoas é uma velha senhora, de quem ela cuida há muito tempo, e que praticamente não consegue sequer se levantar da cama.
Um certo dia a idosa morre e Johanna, por indicação, transfere-se para outra localidade, mas com a mesma finalidade: realizar monótonos trabalhos domésticos e cuidar de uma família.
Conhece, então, o viciado e ex-presidiário Ken (foto acima), que leva uma vida caótica e é rejeitado pelo sogro, Mr. McCauley.
A traiçoeira Edith está por trás da trama
Ken passou um tempo na cadeia devido a um acidente que resultou na morte de sua esposa, deixando órfã a filha Sabitha, que mora com o avô e tem como amizade, aparentemente inseparável, a má companhia de Edith.
Embora as circunstâncias indiquem que houve mesmo um acidente, Ken estava – como sempre – sob o efeito de drogas e foi considerado responsável pela tragédia e acabou sendo preso.
Ele tenta se mostrar simpático a Johanna, que busca sempre distância, pois é – naturalmente – arredia e de pouca conversa. Ainda mais com uma pessoa que ela mal conhece.
Mesmo assim, Ken lhe manda um bilhete. E Johanna, sensibilizada com as palavras elogiosas dele, escreve outro bilhete, mas cai na besteira de – em vez de ir postar a correspondência – deixar o bilhete para ser entregue por Edith.
A partir daí desenvolve-se a trama, maliciosamente engendrada pelas duas adolescentes – Sabitha e Edith – o que leva Johanna a imaginar que o desconhecido Ken está inteiramente apaixonado por ela.
O filme tem como origem um conto da canadense Alice Munro, laureada com o Nobel de Literatura de 2013, que se destacou como um dos mais reconhecidos talentos literários da atualidade, em língua inglesa.
É difícil seguir adiante na descrição do filme Amores Inversos sem cometer spoiler, pois é a partir do reencontro entre Johanna e Ken que a história realmente acontece.
Nem o desgarrado Ken e nem a solitária Johanna, até então, sabiam que foram vítimas de uma mentira completamente maldosa e irresponsável das adolescentes, com participação mais ativa de Edith, que chega a ser advertida pelo namorado de que estava sendo extremamente má com sua atitude.
Johanna encontra Ken extremamente doente e passa a cuidar dele, mesmo depois de conhecer o seu passado. E de ambos ficarem sabendo que todas as correspondências eram mentirosas, com exceção do primeiro bilhete escrito por Ken antes de afastar-se da residência do velho sogro.
As vidas começam a se moldar exatamente em razão da maneira de agir de cada um.
E a mensagem principal é a de que nem sempre a nossa trajetória é aquela que nós queremos ou que planejamos para nós mesmos.
Isso tudo mesclado com a capacidade, ou a incapacidade, de alterar os rumos, dependendo de novas pessoas com quem passamos a conviver. Ou de novas realidades, ou perspectivas, que se apresentem diante de nós.
E de que saibamos, ou não, aproveitar. Para mudarmos (ou não) os rumos de nossa existência.
A história contada em Amores Inversos parece mentira. E o filme, como já dissemos, é uma adaptação de um conto literário.
Isso significa, por si só, que novos elementos foram incluídos, até porque são linguagens distintas (literatura e cinema), com abordagens que precisam ser adaptadas ao novo meio.
O ritmo um pouco lento de Amores Inversos e a postura excessivamente pacífica e, às vezes, recatada, da personagem principal, podem incomodar os que têm preferência por filmes mais frenéticos e movimentados.
Amores Inversos não chegou, pelo menos até agora, a revelar-se um sucesso cinematográfico, apesar do êxito literário indiscutível da autora do conto que lhe deu origem.
Mas acaba sendo uma boa alternativa para quem está farto das mesmices de roteiros cujo desfecho é previsível, alternando apenas personagens e atores.
Amores Inversos (Hatesship Loveship)
Produção: EUA
Ano de produção: 2013
No catálogo da Paramount Pictures
Roteiro: Mark Poirier (baseado em conto da escritora Alice Munro, Nobel de Literatura)
Direção: Liza Johnson
No Elenco:
Kristen Wiig: Johanna Parry
Guy Pearce: Ken
Hailee Steinfeld: Sabitha
Nick Nolte: Mr McCauley
Jennifer Jason Leigh: Chloe
Sami Gayle: Edith
Christine Lahti: Eileen
Becki Davis: Librarian
Sobre o Autor
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