
Eis mais um filme, entre tantos, que mostra as consequências do horror da guerra, desta vez tendo como foco questões sociais e os estigmas deixados pelos conflitos.
A história tem início cinco meses depois da vitória dos aliados contra os nazistas.

Conflitos de convivência surgem entre as consequências da guerra
Nesse período pós-guerra, a trama se desenvolve na cidade alemã de Hamburgo, onde algumas residências de propriedade dos alemães passam a ser utilizadas para abrigar militares de patente do lado vencedor da guerra.
Começa aí o conflito: os alemães consideram que suas casas foram roubadas pelos aliados.
E os aliados reclamam que os alemães não reconhecem que perderam a guerra.
E que têm que aceitar aquilo que os vencedores determinam.

Rachael se recusa a apertar a mão de um possível nazista
Rachael Morgan, esposa do coronel britânico Lewis Morgan (ao centro, na foto), chega à cidade alemã de Hamburgo em ruínas e é recebida pelo marido.
O coronel passou a ser o responsável pela reconstrução da cidade destruída na guerra e se mostra o perfeito militar, sempre empenhado em sua missão.
O problema é que ele mal consegue conviver com a mulher, sempre a serviço dessas missões para as quais é convocado com muita frequência.
Mesmo no momento em que se preparam para uma noite de amor juntos, depois do reencontro, ele surpreende a esposa, ao retornar para o quarto, afirmando que tem que cuidar de um conflito que está ocorrendo na cidade.
E a deixa sozinha, entre decepcionada, amargurada e insatisfeita. Por mais que ela implore que ele fique.

A bela Rachael guarda um trauma da guerra, durante a qual seu filho Michael, de apenas onze anos, foi morto dentro da casa atingida por um bombardeio.
A residência em Hamburgo, onde passam a morar, era a propriedade do viúvo alemão Stephen Lubert, que também perdeu a mulher na guerra.
Para tentar harmonizar a relação com os novos moradores, ele decide que permaneceria no andar de cima, juntamente com sua filha, a jovem e rebelde Freda Lubert.
De início, Rachael rejeita, mesmo com essa divisão da casa, conviver com pessoas que ela não sabe se podem ser nazistas, como é o caso de Stephen Lubert e da filha dele, Freda.
A filha do antigo proprietário também se mostra avessa ao convívio com Rachael. Ela participa de grupos nazistas que tentam resistir à derrota da Alemanha.
Sentindo-se triste e abandonada pelo marido, Rachael muda sua impressão do antigo desafeto alemão e passa a aceitá-lo.
O marido, mais uma vez, está longe, em nova missão para a qual foi convocado às pressas, depois de rejeitar um período de folga que lhe havia sido oferecido pelos oficiais superiores.
Está preparado o ambiente para um recomeço na vida de Rachael, segundo resume o agora confiante Stephen.
E os dois ficam livres para fazerem o que quiserem. E passaram a querer. E a fazer.

Implacáveis Consequências do horror da guerra
Numa conversa com o militar que voltava com ele de uma missão destinada a interrogar prisioneiros nazistas que massacraram aliados, somente agora, depois de ter deixado a mulher abandonada em casa para seguir na missão, Lewis começa a refletir sobre o que, de fato, representa uma guerra, por piores que sejam os inimigos.
Ele se arrepende da forma como se comportou, em sua irada reação ao nazista que o provocou durante um interrogatório. E passou a se questionar.
“Não é a guerra que nos torna homens. Fiz coisas das quais não sinto orgulho”, disse ele ao colega de farda.
E se indagou sobre como a esposa o veria se soubesse o que ele fez na guerra.
Consequências pretende motivar as reflexões a que se propôs – tardiamente – o disciplinado coronel inglês.
A jovem e bela mulher sentia-se, já há muito tempo, carente e massacrada pela tristeza e pelas lembranças dos horrores desses conflitos.

Destaque-se aqui o desempenho da atriz Keira Knightley, de uma beleza suave e de expressões que transmitem tudo o que sua personagem está sentindo diante da vida, que mudou de uma forma que a desagrada.
Com uma boa ambientação da época, fotografia de ótima qualidade e um elenco convincente em seus papéis, Consequências mostra as cenas de conflitos do período em que os alemães se armaram para tentar resistir à derrota para os aliados.
E para se vingarem dessa derrota de forma violenta e sangrenta, com as armas de que ainda dispunham.
Pelo próprio título, fica evidente que se quis levar ao público a convicção de que nenhuma guerra termina quando um dos lados se considera vencedor, ou mesmo chega a ser declarado vitorioso.

Os lados em conflito continuam sua guerra psicológica e ideológica.
Prosseguem se odiando, como acontecia durante o conflito armado em pleno andamento.
E esse aparente término tende a jamais se concretizar, gerando reações que são contrárias à convicção do coronel inglês, empenhado em acreditar que “a guerra acabou”.
É mera ilusão, desmentida pelos fatos. Pois restam as consequências do horror da guerra e das feridas que ela abre.
E difíceis de curar, tanto na alma como nas mentes de quem ainda consegue sobreviver, com a lembrança das pessoas que se foram. Em meio a tanto horror e sangue.
Consequências (The Aftermath)
Ano de produção: 2019
Países: Reino Unido, EUA, Alemanha
Direção: James Kent
Roteiro: Joe Shrapnel e Anna Waterhouse

No Elenco:
Keira Knightley: Rachael Morgan
Alexander Skarsgard: Stephen Lubert
Jason Clarke: Lewis Morgan
Flora Thiemann: Freda Lubert
Kate Phillips: Susan Burnham
Frederick Preston: Michael Morgan
Sobre o Autor
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