Nas profundezas (sem rumo)

Quem não aprecia o gênero suspense pode se decepcionar com o filme Nas profundezas, sem rumo aparente, ao ocupar boa parte do tempo levando o espectador a imaginar que está diante apenas de um romance jovial entre duas pessoas que mal se conhecem.

Jess é a jovem aparentemente ingênua, a ponto de arriscar-se a aceitar o convite de um quase desconhecido para um passeio no barco que ele está construindo.

Até aí, a explicação pode estar no fato de ela sentir-se aborrecida com o pai, que, em tão pouco tempo, esqueceu-se da esposa que morreu afogada e já está com outra.

Mas ela não é tão doce assim, porque é capaz de enfrentar o próprio pai ao questioná-lo sobre esse novo romance, a ponto de deixá-lo sem graça ao final de uma curta conversa.

Jess sai aborrecida da discussão e vai sozinha para a loja de uma amiga, onde se interessa pelo até então desconhecido Ben, após vê-lo de dentro da loja, espiando pela vidraça, supostamente em busca de informações.

Ben se identifica como turista. E os dois, por insistência da própria Jess, visivelmente interessada nele, passam imediatamente a conviver como pessoas que se conhecem suficientemente bem (sem trocadilho), a ponto de ela aceitar que partam para uma aventura.

Até aí é apenas romance, com a consumação daquilo que ambos, aparentemente, queriam.

O filme perdura um bom tempo nesse namoro, até que entra em cena a terceira personagem, a bela Lexie.

Desta vez é uma desconhecida tanto de Jesse quanto, aparentemente, do aventureiro Ben.

Lexie é resgatada do mar, onde estaria se afogando, embora tenha se mostrado, depois de algum tempo, uma exímia nadadora, mesmo enfrentando ondas bravias.

E o filme ainda leva um bom tempo até mostrar a sua verdadeira face, quando o roteirista decide, enfim, iniciar o confronto entre os dois personagens, que parecem disputar para saber quem ocupa o lugar de maior psicopata.

E não é o espectador o único a ficar nessa dúvida, diante de uma atarantada Jess, que deixa evidente não saber em quem acreditar.

Os três personagens sem rumo nas profundezas do mar

Fala-se muito na necessidade de se dar consistência aos personagens, em qualquer criação que se preze, o que parece não ter sido preocupação do roteirista.

Afinal, se a exuberante Lexie guardava tanta raiva de Ben, por que se dispôs a tantas brincadeiras antes de extravasar todo o seu ódio, lembrando-se de um episódio do qual diz querer se vingar?

Terá sido a intenção do roteirista de arranjar um jeito de incluir cenas picantes, a pretexto de inserir o filme na classificação de erótico?

Ou isso, ou então caberá ao espectador imaginar, sem cometer nenhum deslize, que o roteiro foi elaborado durante o próprio desenrolar do filme.