Não é tão difícil saber por que filmes de horror atraem multidões.
Estamos falando nos filmes de horror, terror e violência extrema, que ocupam um lugar peculiar na história do cinema.
Isso lhe parece estranho? Mas são muitas as razões, por mais que sejam sombrias.
Conexões psicológicas conquistam o público
Desde seus primórdios, essas obras têm atraído multidões aos cinemas e conquistado um público fiel, mesmo com suas narrativas sombrias, perturbadoras e, muitas vezes, emocionalmente desgastantes.
O sucesso desse gênero não é acidental: ele reflete profundas conexões psicológicas, culturais e sociais que transcendem o entretenimento superficial, oferecendo uma experiência visceral e única.
O começo do horror no cinema
O cinema de horror tem suas raízes no início do século XX, quando diretores pioneiros começaram a adaptar histórias assustadoras da literatura para a tela grande.
Obras como O Gabinete do Dr. Caligari (1920), um clássico do expressionismo alemão, e Nosferatu (1922), a primeira adaptação cinematográfica de Drácula, exploraram os medos humanos através de visuais inquietantes e atmosferas sombrias.
Esses filmes foram bem-sucedidos porque capturaram os temores do período, incluindo as incertezas políticas e sociais pós-Primeira Guerra Mundial.
Já nas décadas de 1930 e 1940, os estúdios de Hollywood, especialmente a Universal Pictures, popularizaram o gênero com clássicos como Drácula (1931), Frankenstein (1931) e O Lobisomem (1941).
Tais filmes não apenas exploravam monstros icônicos, mas também os dilemas morais e filosóficos que eles representavam.
Eles ofereciam uma forma de escapismo em tempos de crise econômica e, mais tarde, de guerra mundial.
A evolução do gênero e o apelo universal
Ao longo das décadas, o horror evoluiu para acompanhar as mudanças culturais e tecnológicas.
Na década de 1960, filmes como Psicose (1960), de Alfred Hitchcock, redefiniram o gênero ao introduzir temas psicológicos e reviravoltas surpreendentes.
Já nos anos 1970 e 1980, o gênero ganhou nova força com clássicos como O Exorcista (1973), Halloween (1978) e Sexta-Feira 13 (1980), que se tornaram fenômenos de bilheteria.
Esses filmes exploraram medos mais contemporâneos, como possessões demoníacas, assassinos em série e a vulnerabilidade da juventude.
Nos anos 2000, o horror se expandiu para incluir a chamada torture porn, com filmes como Jogos Mortais (2004) e O Albergue (2005), que enfatizavam cenas de violência gráfica.
Apesar de polarizarem opiniões, essas obras atraíram milhões de espectadores, especialmente jovens, que buscavam uma experiência intensa e inesquecível.
A popularidade contínua de filmes de horror e violência extrema, como It: A Coisa (2017), Midsommar (2019) e Terrifier 2 (2022), demonstra que o gênero permanece relevante.
Mas, por que essas narrativas, que parecem tão desconfortáveis, são tão atraentes?
A Psicologia do Medo
Um dos motivos centrais para o sucesso dos filmes de horror é a maneira como eles exploram a psicologia do medo.
O medo é uma emoção primária, profundamente enraizada em nossa evolução.
Ele nos prepara para reagir a ameaças reais ou imaginárias, ativando uma resposta de luta ou fuga.
Filmes de horror simulam essa experiência em um ambiente seguro, permitindo que os espectadores experimentem uma descarga de adrenalina sem risco real.
Além disso, esses filmes oferecem uma espécie de catarse emocional.
Assistir a uma narrativa aterrorizante pode ajudar a liberar tensões acumuladas, proporcionando uma sensação de alívio ao final da experiência.
Estudos mostram que pessoas que gostam de filmes de horror tendem a ser mais abertas a emoções intensas e, paradoxalmente, sentem-se mais seguras ao enfrentar situações de medo fictício.
A fascinação pelo proibido e pelo tabu
Os filmes de terror frequentemente exploram temas que a sociedade considera tabus, como morte, violência, possessão e monstruosidade.
Esses elementos despertam nossa curiosidade natural pelo desconhecido e pelo proibido.
Desde os mitos antigos até os dias atuais, histórias que abordam o sobrenatural e o macabro atraem porque nos confrontam com nossos próprios limites e medos existenciais.
Além disso, o horror frequentemente serve como metáfora para questões mais amplas.
Por exemplo, A Noite dos Mortos-Vivos (1968) abordou questões de racismo e alienação social, enquanto O Bebê de Rosemary (1968) explorou medos relacionados à maternidade e à perda de controle.
Mesmo os filmes de violência extrema, como Laranja Mecânica (1971) e Oldboy (2003), frequentemente carregam críticas sociais e morais subjacentes.
O horror como experiência coletiva
Outro fator que contribui para o sucesso desses filmes é o senso de comunidade que eles criam.
Assistir a um filme de terror no cinema, cercado por outras pessoas, reagindo às mesmas cenas intensas, amplifica a experiência emocional.
Os gritos, risadas nervosas e suspiros coletivos criam um vínculo entre os espectadores, transformando o medo em um evento social.
Essa experiência coletiva é ampliada pela cultura pop, que transforma filmes de horror em fenômenos culturais.
Ícones como Freddy Krueger, Jason Voorhees e Pennywise transcendem as telas, tornando-se parte do imaginário coletivo.
Halloween, por exemplo, tornou-se sinônimo de celebrações temáticas inspiradas por esses personagens, alimentando ainda mais o fascínio pelo gênero.
A busca por adrenalina e a sensação de superação
Para muitos espectadores, o apelo do horror está ligado à busca por sensações extremas.
Assim como montanhas-russas ou esportes radicais, os filmes de terror oferecem uma descarga de adrenalina que pode ser viciante.
Essa intensidade emocional pode ser especialmente atrativa para adolescentes e jovens adultos, que buscam experiências novas e marcantes.
Além disso, assistir a um filme de terror pode oferecer uma sensação de conquista.
Enfrentar os medos projetados na tela e chegar ao final do filme intacto cria uma sensação de superação e coragem, mesmo que o perigo seja fictício.
A violência como espelho social
Os filmes de violência extrema, em particular, atraem não apenas pelo choque, mas também pelo que dizem sobre a condição humana.
Obras como Cães de Aluguel (1992), Kill Bill (2003) e John Wick (2014) exploram a violência de forma estilizada, quase artística, enquanto outros, como A Serbian Film (2010), chocam pela brutalidade crua e pela intenção de provocar reflexão.
Esses filmes frequentemente refletem o caos e a brutalidade do mundo real, permitindo que os espectadores processem seus próprios medos e ansiedades.
Em um mundo marcado por conflitos, desigualdades e incertezas, o cinema de horror e violência extrema funciona como um espelho sombrio, oferecendo uma forma de lidar com essas realidades.
A longevidade do gênero
O sucesso dos filmes de horror, terror e violência extrema é sustentado por sua capacidade de se reinventar.
Desde os sustos tradicionais dos monstros clássicos até o horror psicológico e os subgêneros de violência gráfica, o gênero continua a evoluir, acompanhando as mudanças nos medos e ansiedades da sociedade.
Além disso, a acessibilidade das plataformas de streaming tornou o gênero ainda mais popular, permitindo que obras independentes e ousadas alcancem um público global.
Esses filmes nos confrontam com nossos medos mais profundos, oferecem uma experiência emocional intensa e nos conectam uns aos outros por meio de narrativas universais.
O sucesso do horror e da violência extrema no cinema não é apenas sobre sustos e choques, mas sobre o que significa o tal do ser humano em toda a sua complexidade.
O lado sombrio do denominado ser humano
Afora essa análise, digamos, mais técnica do gênero, não podemos nos esquecer do lado sombrio do denominado ser humano.
Em muitas comunidades, as pessoas não nascem violentas, mas tornam-se violentas. O ambiente de violência é tão presente no dia a dia que violência e medo se transformam num cenário comum. E a violência acaba banalizada.
Não é tão difícil, e não estamos falando apenas de comunidades pobres, que pessoas que se autointitulam homens de bem sejam flagradas e denunciadas por atos que nada combinam com essa denominação.
E é pertinente questionar: o que leva meninos a maltratarem animais ou a terem comportamento agressivo que os leva até mesmo a cometerem crimes hediondos?
Além de tudo o que foi dito até agora sobre o gênero de filmes analisados acima, eles também, ao invés de formas de superação e enfrentamento de traumas e medos, não acabam sendo uma estranha forma de entretenimento e até de diversão para algumas plateias?
O cinema incentiva atos da sociedade, sejam eles bons ou ruins, ou apenas retratam o lado sombrio do denominado ser humano que faz parte da realidade?
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