A série espanhola Entrevias poderia ter dado certo se o roteirista não tivesse apelado para truques tão manjados e se a série da Netflix não ficasse tão longa a ponto de cansar o espectador.
A ideia até foi boa, mas foi muito mal explorada. Poderia ter servido para desmistificar a velha mentira de que miséria e falta de oportunidades não estariam entre os fatores para levar jovens à marginalidade.
Inúmeras pesquisas de seriedade comprovam que, em países onde não há imensos fossos sociais, a criminalidade urbana é muito menor e pode até chegar a índices insignificantes.
A série da Netflix tem como personagens centrais o ex-militar Tirso Abantos (José Coronado) e sua neta vietnamita Irene (Nona Sobo).
Ele é um homem mal-humorado, ranzinza e briguento, em permanente conflito com a rebeldia da neta. Que, para piorar, é apaixonada por Nelson (Felipe Londoño), que Tirso não consegue suportar.
Depois de muitas desavenças, Nelson acaba se envolvendo com a gangue de traficantes de drogas que aterroriza o bairro onde moram.
Sempre querendo dar uma de herói valentão, Tirso se junta a dois amigos para enfrentar as gangues e protagonizam embates muitas vezes inverossímeis.
Passagens repetitivas, que prolongam a série, a tornam cansativa, levando o espectador a indagar-se até que ponto terão que aturar a história da qual fazem parte também uma chefe de polícia atrapalhada e o policial corrupto Ezequiel, que trabalha para o traficante Sandro, o todo poderoso do bairro (foto a seguir).
Embora desonesto em sua dupla atividade como policial e serviçal de Sandro, Ezequiel é experiente e conhece todos os meandros que envolvem a criminalidade no bairro.
É ele que tenta frear o ímpeto de Tirso em agir no enfrentamento das quadrilhas, atitude que se repete e que acaba sendo mais um elemento de cansaço para o espectador.
A questão é que, querendo agir com valentia, Tirso acaba por atrapalhar a ação da própria polícia, em quem não confia.
E isso se repete exaustivamente. Sem tantas repetições, Entrevias poderia ter dado certo.
Um dos velhos truques é o de fazer com que personagens fiquem calados ouvindo absurdos, para viabilizar o desenrolar da história, cuja série vem sendo encarada pela crítica internacional como muito repetitiva e já faz a própria Netflix se questionar quanto ao sucesso alcançado por Entrevias.
A escolha, obviamente, é do espectador. Quem gosta de filmes do gênero pode ter paciência para esperar os desfechos que ainda virão, com a expectativa de mais uma rodada.
Isso, a julgar pelo desfecho apresentado no último capítulo em exibição no momento de publicação deste post.
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Sobre o Autor
O objetivo do Autor não é o de concentrar-se na linguagem rebuscada do tecnicismo cinematográfico, mas de apresentar o que há de melhor (ou de pior) na filmografia nacional e internacional, e concentrar-se no perfil dos personagens. As análises serão sempre permeadas pela vertente do humanismo, que, segundo o Autor, é o que mais falta faz ao mundo em que violência e guerra acabam compondo o cenário tanto dos filmes como da realidade de inúmeros países, entre os quais o Brasil.
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