
A eternidade do cinema como arte, e como cultura, é incontestável. Mas, obviamente, não está sozinho. Porque, de fato, o cinema nasceu para ser eterno. Mas também a literatura e a música. E, ainda assim, por mais que pareça inacreditável, ainda há quem não valorize a cultura.
A eternidade como essência da criação humana
A expressão a arte que nunca morre poderia, por si só, ser um epitáfio para toda a genialidade humana condensada nas expressões mais puras do nosso espírito.
Desde as primeiras pinturas nas cavernas até os grandes espetáculos da sétima arte, passando pelas epopeias literárias e pelas sinfonias que atravessaram séculos, o ser humano mostrou que seu impulso por registrar, emocionar e transcender o tempo é inextinguível.
E entre todas essas manifestações, três se destacam como pilares dessa eternidade: o cinema, a literatura e a música.
Por força do desafio a que nos lançamos, de construir este site sobre cinema, vamos falar, de início, dessa nobre arte que se perpetua. E mais adiante falaremos de literatura e de música.
O dilema da eternidade do cinema
Este artigo nasceu de um dilema: como manter nosso site sempre atualizado, traduzindo o caráter eterno da chamada sétima arte?
E esse dilema sobre cinema veio misturado com música, no dia em que me deparei com um vídeo em preto e branco da jovem Rita Pavone cantando o hit que estourou no Brasil e em vários países nos anos 1960.
Minha primeira reação foi de surpresa: lá estava Rita Pavone brandindo um martelo, como fazia sempre quando cantava Datemi un Martello.
De repente entram os jovens em fila para dançarem de um jeito que todos irão achar engraçado para os dias atuais.
Quem viveu essa época ou tem cultura musical haverá de saber que a pequenina cantora fez tanto sucesso que até o rei Pelé fez questão de ser fotografado abraçado a ela, sorridente.
Queiramos ou não, a internet torna ainda mais inquestionável a máxima segundo a qual cinema, música e literatura representam a arte que nunca morre.
E aí nos deparamos com o dilema: como agir diante de outra máxima eternizada por Cazuza: o tempo não para…?
O tempo desafia a eternidade do cinema?
O tempo não para, como cantava Cazuza, e as plataformas de streaming também não.
Mesmo que adoremos um filme ou uma série, de repente podemos nos deparar com o aviso de que serão retirados do ar.
É o caso, entre muitos outros, da série Monk, um sucesso internacional retirado do ar pela Netflix.
Neste, e em muitos outros casos, a também eterna Literatura vem ao nosso socorro, mesmo que nos obrigue a revisar o texto do artigo.
No caso de Monk, aproveitamos para divulgar um dos livros que se propõem a tratar das pessoas que padecem do mesmo mal enfrentado pelo competente detetive: o TOC, ou Transtorno Obsessivo Compulsivo.
Também tivemos que atualizar o artigo sobre a expectativa da premiação de Fernanda Torres, que acabou não ganhando o Oscar, mas conquistou o Globo de Ouro.
Era mais uma oportunidade surgida a partir da eterna literatura, para divulgar o livro Ainda Estou Aqui, de Marcelo Rubens Paiva, em que se baseou o filme que acabou conquistando o Oscar.
Muitas outras peripécias do tempo, que não para, certamente virão. Mas não se preocupe: todo filme acaba sendo eterno, pela experiência que proporciona, pelas lições que nos ensina e pela oportunidade, sempre presente, de você localizá-lo em outra plataforma de streaming ou na eternizadora Internet.
Trata-se, evidentemente, de mais uma proeza da tecnologia que nos traz de volta o hit de Rita Pavone e de outras cantoras. Ou que nos traz estrelas que também se eternizam por seus repertórios ou pela performance no cinema.
Assim sendo, toda vez que você se deparar com um filme ou série que tenha sido retirado do ar por uma plataforma de streaming, ainda assim ele estará eternizado pelo que dissemos acima.

O nascimento do cinema e sua vocação imortal
O cinema não foi apenas uma invenção técnica. Desde os irmãos Lumière, que em 1895 projetaram a saída dos operários de uma fábrica em Lyon, a sétima arte se mostrou muito mais do que um aparato de projeção: ela nasceu com a vocação de eternizar o efêmero.
Aquela cena cotidiana, banal para os padrões modernos, foi uma revelação para uma geração inteira. As pessoas se maravilhavam, gritavam, riam. Elas viam pela primeira vez o tempo sendo capturado. Isso é mais do que entretenimento: é imortalidade.
Aos poucos, o cinema deixou de ser uma curiosidade e se transformou em narrativa. Georges Méliès, com Viagem à Lua (1902), mostrou que a câmera podia sonhar.
Em 1927, O Cantor de Jazz introduziu o som. Nos anos 30, o technicolor deu cor às telas. Em 1941, Orson Welles com Cidadão Kane (imagem acima) transformou a linguagem cinematográfica.
E nas décadas seguintes, nomes como Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick, Akira Kurosawa, Ingmar Bergman e tantos outros provaram que o cinema não é apenas imagem em movimento, mas filosofia visual.

A eternidade do cinema reside na sua capacidade de capturar a alma de uma época
Um filme é uma cápsula do tempo emocional, estética e ideológica. Quando assistimos a Casablanca, sentimos a Segunda Guerra Mundial. Quando vemos Pulp Fiction, compreendemos a fragmentação cultural dos anos 90.
Não importa o quanto o mundo mude — o cinema seguirá registrando e recriando as nossas memórias. Por isso, cinema é uma arte que nunca morre.
Literatura: a memória escrita da humanidade
Muito antes da invenção do cinema, havia a palavra. E, com ela, nasceu a literatura — o mais antigo e talvez o mais poderoso instrumento de eternidade.
Desde os registros sumérios na tábua de argila de Gilgamesh, passando pela Ilíada e Odisseia atribuídas a Homero, a literatura sempre teve como missão a resistência contra o esquecimento.
No entanto, não se trata apenas de preservar fatos. A literatura preserva sensações, conflitos internos, dilemas morais. Ela é um espelho da alma humana através dos tempos.
Dante Alighieri, com sua Divina Comédia, não apenas descreveu um inferno medieval — ele eternizou o imaginário religioso e filosófico do Ocidente.
William Shakespeare, com suas tragédias e comédias, legou ao mundo arquétipos que ainda hoje ecoam em novelas, séries e filmes.
E Machado de Assis, com Dom Casmurro, mergulhou na ambiguidade da mente humana como poucos ousaram.
As palavras têm uma força única. Um livro pode atravessar milênios e continuar tocando corações.
A literatura é a eternidade da emoção escrita. E, ao se reinventar — seja no papel, no digital ou até mesmo em audiobooks —, ela reafirma seu lugar como arte que nunca morre.
O eterno fim do mundo
Sem querer, como se diz, puxar a brasa para minha sardinha, acabei lançando um livro (o primeiro dos nove lançados, até agora) que se eterniza pelo tempo.
Estávamos a um passo do ano 2000, que era o ano em que o mundo acabaria. E em dezembro de 1999 lancei A Festa de Fim do Mundo, com capa de Robritto, de forma a também festejar a eternidade da pintura e das artes plásticas de um modo geral.
Representou um lançamento tão identificado com o tempo que teve ótima repercussão na mídia, com muitas matérias em jornais locais e de outros Estados, além de entrevista em um programa de TV e uma crônica elogiosa do jornalista Rubem de Azevedo Lima no jornal Correio Braziliense.
Passadas mais de duas décadas, o tema fim do mundo não sai do noticiário. Estariam ocorrendo ainda 130 conflitos e persiste o risco da guerra nuclear, que, esta sim, decretaria o fim do mundo.
Mas o eterno pode ter o lado bom e o lado ruim. A eterna persistência em sorrirmos e nos empenharmos em ser felizes, apesar de todas as adversidades, assistindo a filmes, ouvindo música, amando e lendo livros, se contrapõe à eterna persistência de boa parte da dita humanidade de nunca dar Adeus às Armas.
Ernest Hemingway, o Autor, eternizou sua obra, ambientada na Primeira Guerra Mundial. Pelos méritos de sua Literatura, ganhou o Pulitzer de Ficção (1953) e o Nobel de Literatura (1954). E o mundo, sob a ameaça dos conflitos mundiais, continua eternizando o tema com o risco do fim.
A música como linguagem universal e atemporal
Enquanto o cinema captura o tempo e a literatura traduz a alma, a música é talvez a mais visceral das artes.
Ninguém precisa ser alfabetizado para sentir a música. Ninguém precisa entender uma letra para ser tocado por uma melodia. A música transcende línguas, geografias e eras.
Pesquisas arqueológicas já comprovaram que instrumentos musicais existem há pelo menos 40 mil anos.
Flautas feitas de ossos foram encontradas em sítios paleolíticos, provando que o impulso por sons organizados acompanha a humanidade desde seus primórdios.
No Egito Antigo, na Grécia Clássica, nas cortes medievais e nas tribos africanas, a música sempre foi um fio condutor entre o humano e o divino.
No século XVIII, com Mozart, Beethoven e Bach, a música atingiu patamares de sofisticação jamais vistos.
No século XX, o jazz e o rock deram voz às revoluções culturais. A música popular brasileira, com nomes como Cartola, Elis Regina e Chico Buarque, contou a história de um país inteiro.
E hoje, em tempos digitais, artistas independentes podem alcançar o mundo todo com uma única faixa.
A música é a prova definitiva de que a arte não morre. Quando ouvimos um canto gregoriano ou um samba de raiz, estamos ouvindo também os fantasmas do passado sussurrando em nossos ouvidos. E esse sussurro não tem data de validade.

A eterna caminhada dos Beatles
Não estamos nos referindo à famosa foto de um dos álbuns do mais famoso quarteto de rock de todos os tempos…
A caminhada se perpetua pela musicalidade esplêndida da banda que surgiu em 1960, em Liverpool, Inglaterra, e ainda hoje permanece presente em shows, competições de novos talentos em busca da fama, nas orquestras e, em resumo, nos palcos do mundo inteiro.
A música passou por muitas transformações ao longo dessas décadas, mas a designada beatlemania resiste ao tempo e, certamente, jamais deixará de fazer parte do histórico musical de parte da mesma humanidade, em sua parcela significativa que rejeita as armas e festeja a paz onde ela esteja. Ou onde deveria sempre estar.
Cinema, literatura e música: por que representam a arte que nunca morre?
É comum pensar que o digital ameaça essas formas de arte. Que os algoritmos, os conteúdos rápidos e os hábitos voláteis das novas gerações poderiam enterrar o cinema clássico, a literatura profunda ou a música de verdade. Mas os dados mostram o contrário.
Segundo a UNESCO, mais de 2,7 milhões de livros são publicados por ano no mundo. A indústria cinematográfica global movimenta mais de 40 bilhões de dólares anuais. E a música, com o streaming, atingiu um alcance global inédito: são mais de 616 milhões de assinantes de plataformas como Spotify, Apple Music e Amazon Music, entre outros canais de expressão.
O digital não está matando essas artes — está dando a elas novas formas de se eternizarem.
A seguir, uma tabela comparativa que mostra a evolução do alcance das três artes nos últimos cem anos:
Ano | Cinema (ingressos anuais, global) | Livros (títulos publicados) | Música (novas gravações lançadas) |
1925 | 1 bilhão | 100.000 | 10.000 |
1950 | 2,5 bilhões | 200.000 | 50.000 |
1980 | 6 bilhões | 600.000 | 200.000 |
2000 | 8 bilhões | 1,5 milhão | 1 milhão |
2024 | 12 bilhões | 2,7 milhões | 22 milhões (streaming e autorais) |
Esses dados comprovam, sem sombra de dúvida, que cinema, literatura e música não estão em declínio. Pelo contrário: estão se multiplicando, se renovando, se adaptando. Elas são, de fato, a arte que nunca morre.
A força da memória coletiva em torno da arte
A memória cultural da humanidade é construída sobre essas expressões.
As crianças aprendem a amar histórias antes de ler, aprendem a cantar antes de escrever, aprendem a imaginar antes de compreender.
A arte é o primeiro e último idioma da existência humana.
Em tempos de dor, recorremos à música.
Em tempos de dúvida, buscamos respostas na literatura.
Em tempos de crise, encontramos sentido nas imagens do cinema.
É por isso que, mesmo quando tecnologias mudam, plataformas se transformam e modas passam, o essencial dessas artes continua vivo.
A forma pode mudar — de vinil para streaming, de rolo de filme para IMAX, de papel para e-reader — mas a essência permanece. E essa essência é o que torna cada uma delas uma arte que nunca morre.
Como as novas gerações perpetuam a eternidade artística
Um dos mitos mais recorrentes da modernidade é de que os jovens não leem, não ouvem boa música e não assistem a grandes filmes. Mas os números refutam esse pessimismo.
A geração Z lê mais do que a geração anterior, especialmente em formatos digitais e audiobooks. O consumo de música cresceu entre os jovens graças ao fácil acesso por aplicativos. E plataformas como MUBI, Netflix e YouTube têm levado clássicos do cinema a milhões de novos espectadores.
O segredo da imortalidade está, justamente, na reinvenção constante.
Hoje, um adolescente pode assistir O Poderoso Chefão e depois discutir a trilha sonora de Nino Rota no TikTok.
Pode ouvir Chico Buarque em uma playlist no Spotify enquanto lê Clarice Lispector em um Kindle.
Pode criar curtas-metragens com estética profissional usando apenas um celular.
A arte que nunca morre vive em cada gesto como esse. E sua força repousa na capacidade que temos de reinterpretá-la à luz de novos contextos.
Motivos que tornam cinema, literatura e música eternos
- Transcendem o tempo e o espaço.
- Reproduzem emoções humanas universais.
- Adaptam-se a novas tecnologias.
- São ensinadas desde a infância.
- Mantêm relevância mesmo após séculos.
- Geram comunidades e identidades culturais.
- Inspiram outras formas de arte.
- Estão em constante renovação criativa.
- Alimentam debates sociais e éticos.
- Preservam a memória coletiva da humanidade.
FAQ – Perguntas e respostas sobre a arte que nunca morre
Por que o cinema é considerado uma arte eterna?
Porque ele reúne imagem, som, narrativa e emoção em um único formato, capturando o espírito da época e registrando memórias culturais que ultrapassam gerações.
A literatura ainda tem espaço em um mundo digitalizado?
Sim. A literatura se adapta ao digital com e-books, audiobooks e plataformas de leitura. Além disso, continua sendo base de boa parte das produções audiovisuais.
A música sofre com o excesso de produções contemporâneas?
Não. A variedade musical é uma demonstração de vitalidade, e as plataformas de streaming permitem que músicas antigas e novas convivam em harmonia e ganhem novas audiências.
Como as escolas e famílias podem manter vivas essas formas de arte?
Estimulando o contato com livros, filmes e músicas desde a infância, promovendo conversas sobre cultura, e mostrando como essas expressões são parte do nosso cotidiano emocional.
Qual o impacto dessas artes na saúde mental?
Inúmeros estudos apontam que música, literatura e cinema ajudam no controle da ansiedade, da depressão e promovem empatia e bem-estar geral.
Conclusão: o futuro pertence à arte que nunca morre
O cinema, a literatura e a música são mais do que entretenimento. São registros emocionais da nossa existência. São espelhos, bússolas e portos. Cada geração os recria, os desafia, os reinventa. Mas nunca os abandona. Porque no fundo, eles são extensões daquilo que temos de mais valioso: nossa capacidade de sentir, lembrar e imaginar.
Enquanto houver seres humanos no mundo, haverá histórias para contar, sons para compor e imagens para registrar. E enquanto isso acontecer, essa arte que nunca morre continuará sendo o fio que une todos os tempos, todas as culturas e todas as almas.
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