
Apesar do nariz torcido de quem cospe em estátuas de vítimas e faz discurso elogiando torturadores, finalmente o merecido Oscar saiu para um filme brasileiro.
Os ataques dos recalcados, ao contrário de tirarem o brilho da vitória, engrandecem ainda mais a conquista do Oscar de melhor filme estrangeiro para Ainda Estou Aqui.
Não é apenas um filme de merecida repercussão internacional, mas um verdadeiro troféu para uma história contada com sensibilidade, retratando um período lamentável que muitos ainda querem reviver.

Um diretor que merece aplausos
Antes mesmo da merecida premiação, essa sensibilidade do diretor Walter Salles foi ressaltada em extenso artigo publicado pelo jornal Folha de São Paulo, de autoria do colunista Leonardo Sanchez.
O jornalista ressalta o perfil de Salles como um diretor discreto, reservado e sóbrio, que, embora seja um dos cineastas de maior prestígio e fama que o cinema brasileiro já produziu, sempre destaca o verdadeiro valor de quem engrandece os seus filmes, como fez com Fernanda Montenegro, quando Central do Brasil ganhou o Globo de Ouro como melhor filme estrangeiro.
Também agora, quando subiu ao palco para receber a merecida estatueta, citou ambas as atrizes, mãe e filha.
E deu passagem livre para que Fernanda Torres, a primeira brasileira premiada com o Globo de Ouro como atriz, se tornasse um símbolo sempre à frente de toda a repercussão que o filme teve no mundo inteiro.

Fernanda também é vitoriosa
Muitos lamentaram que Fernanda Torres não recebesse também o Oscar como melhor atriz, mas as previsões mais realistas eram para o filme.
Ademais, poucos conhecem os meandros que antecedem as premiações da Academia, que somente em tempos recentes abriu passagem para que produções independentes e filmes não produzidos pela potente indústria cinematográfica hollywoodiana subissem ao palco para receber aquela que é a mais poderosa premiação.
Quem é Walter Salles
As mentiras em torno da Lei Rouanet, como mostramos em recente artigo, chegaram a ser espalhadas quando Ainda Estou Aqui começou a revelar seu potencial como filme destinado ao sucesso.
Mas essas tentativas de desinformação em torno da lei foram escancaradas como mais um tiro no pé das correntes retrógradas, que se autointitulam patriotas mas sempre se encarregam de enxovalhar a imagem do Brasil.
Ainda Estou Aqui, embora seja mentira o que se diz da Lei Rouanet, nem passou perto dela. E mais do que nunca, por tudo o que representa, recebeu finalmente o merecido Oscar.
O filme é uma produção independente de um diretor muito bem de vida, que está entre os herdeiros do Banco Itaú Unibanco, o maior banco brasileiro.
Investimento consciente
A fortuna de Walter Salles, que resulta também de muitos outros investimentos dos herdeiros do banqueiro e diplomata Walther Moreira Salles, não o torna um alienado da realidade brasileira.
Sua visão social e humanista fica evidente, para quem tem dignidade para reconhecer, em sua filmografia, que ganhou destaque em produções como o premiado Central do Brasil, com Fernanda Montenegro.
Contracena com a grande atriz um menino que engraxava sapatos no Aeroporto Santos Dumont (RJ), Vinícius de Oliveira, que foi convidado para um teste após uma breve conversa com Walter Salles e acabou se tornando uma atração no filme.
As premiações até o merecido Oscar
Todos queríamos que Fernanda Torres também fosse premiada com o Oscar. Mas ninguém pode se esquecer de que, junto com o filme, ela brilhou nos palcos do mundo após ganhar o Globo de Ouro.
Temos, portanto, uma dupla premiação, o que põe por água abaixo as maledicentes vozes dos que até hoje não reconhecem os filmes brasileiros na honrosa posição entre os melhores do mundo.
Antes do Oscar, Ainda Estou Aqui conquistou não apenas o Globo de Ouro para Fernanda Torres como melhor atriz de drama, como também, entre outras premiações, de melhor roteiro no Festival de Veneza (Itália), prêmios Goya como melhor filme ibero-americano (Espanha), Critics Choice Association (EUA e Canadá) para Fernanda Torres como melhor atriz estrangeira, prêmio do público no Vancouver International Film Festival (Canadá) e filme favorito do público no Mill Valley Film Festival e no Miami Film Festival (EUA).
Muita gente aplaudindo
O Mill Valley Film Festival, por exemplo, é organizado anualmente pelo California Film Institute.
Recebe mais de 200 cineastas, representando mais de 50 países.
O Goya, por sua vez, é considerado o Oscar espanhol.
Mas a trajetória de Ainda Estou Aqui é marcante e, aparentemente, infindável.
São, até agora, mais de 30 prêmios (entre nacionais e internacionais) e uma verdadeira maratona de Fernanda Torres e do ator Selton Mello por vários países, com um incontável número de entrevistas.

Finalmente o merecido Oscar que os verdadeiros brasileiros aplaudem
O que é preciso agora, após a inquestionável marca positiva do filme na cinematografia brasileira, é que não apenas o mundo comprove a importância e o valor do cinema nacional, como os brasileiros também passem a prestigiá-lo cada vez mais.
E que, em suma, nossa produção cinematográfica tenha acesso a financiamentos para novas realizações, porque, afinal de contas, cinema não se faz sem apoio e sem verbas.
Não podemos nos enganar, na ilusão de que Hollywood teria se tornado essa potência mundial sem apoio e sem o engajamento do seu público, especialmente entre os próprios norte-americanos.
É preciso, como alguns jornais ressaltaram, deixar de lado o complexo de vira-latas, tão bem definido pelo escritor Nélson Rodrigues, e nos orgulharmos da qualidade do cinema brasileiro, reconhecida internacionalmente… E que não é de hoje.
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