destaque Deus e o diabo na terra do sol (1)

Poderia ter sido título de um filme: Glauber Rocha e o flerte com os militares. E sem nenhum exagero, pois as controvérsias que surgiram na época do regime militar, envolvendo o seu nome, ganharam grande repercussão.

O cineasta Glauber Rocha foi, ao mesmo tempo, um dos principais nomes do movimento cinematográfico conhecido como Cinema Novo. E também o cineasta da época que mais se envolveu em polêmicas.

Durante o período da ditadura militar no Brasil, que durou de 1964 a 1985, Glauber Rocha se envolveu nessas polêmicas devido à sua postura crítica em relação ao governo e à sua defesa da liberdade de expressão.

Mas houve outros capítulos que se seguiram em sua convivência com o regime opressor e que acabaram por lhe custar a desconfiança de que estaria flertando com os militares.

Glauber Rocha e o flerte com os militares
Terra em transe

O subversivo Glauber Rocha

De início, uma das principais polêmicas envolvendo Glauber Rocha na época da ditadura militar foi o seu filme Terra em Transe, lançado em 1967.

O filme foi considerado subversivo pelas autoridades militares e chegou a ser proibido pelo regime ditatorial.

A alegação dos militares era de que a obra fazia uma crítica ao sistema político brasileiro e incentivava a luta armada.

Ele também teve que enfrentar a censura em outros filmes seus, como Deus e o Diabo na Terra do Sol e Câncer.

Além disso, envolveu-se em outras polêmicas por conta de sua postura política.

Foi um dos fundadores do grupo de esquerda Ação Popular, que lutava contra a ditadura militar no Brasil, e chegou a ser preso e exilado por suas atividades políticas. Em 1971, ele foi detido pela polícia chilena por participar de uma manifestação contra o governo do ditador Augusto Pinochet.

Glauber Rocha flertou com os militares?

É verdade que Glauber Rocha foi acusado de flertar com os militares em um determinado momento durante a ditadura militar no Brasil.

Na década de 1970, após ter sido preso e exilado por suas atividades políticas de esquerda, ele passou por um período de mudança ideológica e começou a buscar novas formas de ação política.

Durante esse período, Glauber Rocha se aproximou do general Golbery do Couto e Silva, que foi um dos principais articuladores do regime militar no Brasil e que também defendia uma abertura política gradual.

Glauber chegou a elogiar a teoria política de Golbery, conhecida como teoria da abertura, em entrevistas e artigos, o que gerou polêmica e críticas por parte de seus antigos companheiros de luta contra a ditadura.

Além disso, encontrou-se com o então presidente Ernesto Geisel e com o futuro presidente João Figueiredo (foto), em uma viagem ao exterior, em 1977, o que gerou enorme controvérsia.

A partir desses acontecimentos, Glauber passou a ser visto por muitos como alguém que havia abandonado suas convicções políticas de esquerda e mantinha diálogos cordiais com os militares.

E o episódio relacionado a Glauber Rocha e o suposto flerte com os militares ganhou destaque na imprensa da época.

No entanto, é importante ressaltar que a relação de Glauber Rocha com os militares e sua mudança ideológica não foram unilaterais e simples.

Ele sempre foi considerado um intelectual complexo e multifacetado, que buscava compreender e se posicionar diante das transformações políticas e culturais de seu tempo.

Sua postura em relação à ditadura militar no Brasil e aos militares envolveu nuances e contradições que refletem a complexidade do período histórico em que viveu. O cineasta faleceu em 1981, mas seu legado como um dos principais nomes do Cinema Novo e sua postura crítica em relação à ditadura militar no Brasil ainda são lembrados e discutidos até hoje.

Sobre o Autor

Gerson Menezes
Gerson Menezes

O objetivo do Autor não é o de concentrar-se na linguagem rebuscada do tecnicismo cinematográfico, mas de apresentar o que há de melhor (ou de pior) na filmografia nacional e internacional, e concentrar-se no perfil dos personagens. As análises serão sempre permeadas pela vertente do humanismo, que, segundo o Autor, é o que mais falta faz ao mundo em que violência e guerra acabam compondo o cenário tanto dos filmes como da realidade de inúmeros países, entre os quais o Brasil.

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