A série turca exibida pela Netflix bem poderia, se fosse brasileira, servir como reflexão se explorasse melhor a relação entre pais e filhos, numa época de tantos conflitos que parecem se eternizar, mesmo em pleno século XXI. Mas, devido ao seu país de produção, com realidades perversas que dificultam a vida das mulheres, e às contradições do enredo, vale a pergunta: de quem estamos fugindo, afinal?
Mãe e filha fogem o tempo todo, mas se comportam de maneira a, da mesma forma e na mesma proporção, levantarem suspeitas o tempo todo… Exatamente como não deveria agir quem está…fugindo.
A mãe se veste o tempo todo de preto e não admite que ninguém (nem mesmo os empregados do hotel) entre nos quartos dos palácios onde estão hospedadas.
Para quem assiste a história de duas pessoas que precisam passar a vida inteira fugindo, torna-se legítima a pergunta: por que tantos hotéis luxuosos?
Não precisariam chegar ao ponto de se hospedarem em hostels com banheiro coletivo e camas espalhadas para todo mundo, como os estudantes sacoleiros que viajam à Europa.
Mas, ao par de tantas atitudes estranhas, o excesso de luxo justifica a pergunta: de quem estamos fugindo afinal?
O filme é construído fazendo um paralelo com o personagem Bambi (Bambi, a Life in the Woods), do austríaco Felix Salten, que se transformou em sucesso da Disney como filme animado, lançado em 1942.
E essa é a forma como a mãe fugitiva se refere o tempo todo à filha inseparável, a quem ela acaba se revelando uma assassina, embora não deseje que a filha venha a ser igual a ela.
Com o recurso de várias passagens em flashback, a mãe é caracterizada como uma pessoa que enfrentou, desde a infância, pai e mãe que a desprezavam. E que a humilhavam o tempo inteiro.
Ainda que não se possa conhecer os sistemas bancários de todos os países pelos quais elas viajam, em sua incessante fuga, torna-se inverossímil, também, que não tenha nenhum endereço (deixando a polícia atarantada) quem vive indo a bancos para sacar dinheiro.
Toda a trama se desenvolve entremeada por cenas de medo, rejeição da mãe de Bambi a qualquer contato com estranhos (quando não há ninguém que seja mais estranho do que ela própria), fugas da polícia e dos hotéis facilitada por uma incrível capacidade de sumir sem deixar rastros, e pela empenhada proteção da filha, personificada como uma menina linda pelas hóspedes dos hotéis, que – por sua vez – também merecem a severa rejeição por parte da estranha mulher de preto.
Nos prolongarmos na descrição do enredo deixaria sem nenhuma graça o filme, que, para quem gosta, pode ser encarado como um projeto (malsucedido?) de trama policial.
De qualquer modo, a mistura de medo com assassinatos e muito sangue ainda faz o gosto de vasta parcela.
Apesar do paralelo com a história de Bambi, o filme teria sido inspirado no romance da escritora Perihan Magden, narrando os traumas vividos pelas mulheres na Turquia.
Afinal, De Quem Estamos Fugindo?
Você pode tirar suas conclusões assistindo à série
Assista se estiver ao seu gosto.
Direção: Umut Aral, Gökçen Usta.
Elenco: Melisa Sözen, Eylül Tumbar, Musa Uzunlar, Başak Daşman, Birand Tunca, Alper Çankaya, Hakan Emre Ünal.
Ano de produção: 2022.
Até a data desta publicação, a Netflix ainda não havia confirmado se haveria uma segunda temporada.
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