Ao contrário dos filmes estrangeiros que abordam a temática de crianças desaparecidas ou sequestradas, este filme nacional cria uma trama bem mais complexa, que impede o espectador de identificar para que lado a história irá se encaminhar. Com isso, O Lobo Atrás da Porta é imprevisível da primeira à última cena.
Mistura de drama com filme policial, o roteiro acaba incluindo mais ingredientes, como suspense e mistério. Afinal, que decisão irá tomar Rosa, a amante de Bernardo?
Quando Rosa pede ao amante, por telefone, que se encontre com ela “pela última vez”, depois de ter dito, muitas cenas antes, que havia comprado uma arma, a impressão é de que a vingança pelo aborto forçado se concentraria no assassinato de Bernardo.
No entanto, mais uma vez, O Lobo Atrás da Porta se revela imprevisível: o roteiro reserva uma surpresa, bem recheada por cenas de forte simbolismo, como o presente dado por Rosa à menina que irá ser sequestrada.
E a escolha pelo que saborear, antes do final dramático que se costuma oferecer aos condenados à morte.
Já na cena em que, amargurada, Rosa se aproxima de uma murada de onde avista a paisagem com muitas moradias, bem do alto, a primeira impressão é a de que ela poderia tentar o recurso mais extremo dos desesperados
O diretor e roteirista faz da surpresa e da imprevisibilidade de cada uma das sequências o maior trunfo do filme. Além, é claro, do ótimo desempenho do elenco.
O destaque fica para Leandra Leal, oscilando entre a voz adocicada dos primeiros encontros e o medo, o pavor e o horror diante da agressividade do amante.
O Lobo Atrás da Porta não é um filme agradável de se ver. Não pelo filme em si, mas pela natural revolta a que dá vazão, diante da realidade amarga.
Uma realidade tantas vezes presente no Brasil e em países em que a população oscila entre as dificuldades do dia a dia, as injustiças, as decepções, as ilusões e os sonhos irrealizáveis.
O predador e o suposto médico permanecem impunes, enquanto a vítima fica entre o desespero, a depressão e a dor física e emocional.
Os que se comprazem em criticar – de antemão – as produções nacionais, podem argumentar que O Lobo Atrás da Porta repete histórias que já vimos em produções originárias de outros países.
No entanto, ao contrário – enfatizamos mais uma vez – de histórias de desaparecimentos e sequestros misteriosos, que se resumem à saga, muitas vezes prolongada e repetitiva, em busca das vítimas, essa produção nacional encontra um novo caminho, mais complexo e entremeado pela dúvida quanto aos seus desdobramentos.
Não o torna – frisamos mais uma vez, também – um filme agradável de se ver.
Não como filme, mas pela certeza de que retrata a amarga realidade tão comum de acontecer, que nos revolta e entristece.
O Lobo Atrás da Porta
Origem: Brasil
Roteiro e Direção: Fernando Coimbra
No elenco:
Leandra Leal: Rosa
Milhem Cortaz: Bernardo
Fabíula Nascimento: Sylvia
Isabelle Ribas: Clara
Thalita Carauta: Bete
Juliano Cazarré: delegado
Karine Teles: professora Arlete
Tamara Taxman: mãe da Rosa
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