As jovens Elisa e Marcela desafiam e vencem a Igreja Católica e, como consequência, todas as religiões que impõem restrições ou proíbem casamentos homoafetivos.
Pelo seu ineditismo, pela sua beleza plástica, pelo desempenho das atrizes e por representar uma luta contra o preconceito, o filme Elisa y Marcela se destaca entre os episódios mais curiosos da história do cinema.
Filmado em preto e branco e exibido pela Netflix, o filme conta a história real de Elisa Sánchez Loriga (Natalia de Molina) e Marcela Garcia Ibeas (Greta Fernández), que se apaixonaram e tiveram que enfrentar preconceitos que culminara, inclusive, com a polícia à porta das duas jovens.
Pode ser visto como amor intenso. Desde que se viram pela primeira vez, as duas não conseguiram mais se afastar uma da outra.
Isso acontece no convívio diário e nas brincadeiras na chuva, quando as duas secam mutuamente os corpos, próximos ou colados.
Mergulham nas águas e elogiam a beleza de seus corpos molhados.
Trocam cartas de amor eterno e enfrentam todas as adversidades do lugarejo de Coruña, na Galícia (Espanha) do ano de 1910.
Na verdade, a história de Elisa e Marcela é mais trágica do que retrata o filme, diante da decisão da roteirista e diretora Isabel Coixet (roteiro em parceria com o biógrafo Narciso de Gabriel) de imprimir ao relato um símbolo contra o preconceito que persiste até os dias atuais.
O que se sabe é que, diante da constante vigilância dos vizinhos, que não as deixam em paz para viverem o que se revela como paixão e amor irremovíveis, Elisa falsifica a identidade de um primo falecido para consumar o casamento com a presença de um suposto homem.
Com isso, Elisa e Marcela desafiam e vencem a Igreja, cujos dogmas impedem esse tipo de casamento.
O suposto homem, na verdade, era a própria Elisa disfarçada, com o cabelo curto, de chapéu e um simulacro de bigode. E que havia dito ao padre que precisava se casar rapidamente porque Marcela estaria grávida dele.
A história real de Elisa e Marcela, depois disso tudo, tem pontos obscuros e confusos. Elas chegaram a ser excomungadas pela Igreja Católica depois que a trama foi descoberta, mas o casamento não teria sido dissolvido.
Ocorre que, diante da farsa, foi emitido na Espanha um pedido de prisão das duas, por falsidade ideológica e falsificação de documentos.
Para não serem presas, elas fogem para Portugal, mas o paradeiro delas é descoberto e a Espanha pede a extradição das duas para serem julgadas.
Há relatos também de que, mesmo depois de o pedido de extradição ter sido aceito por Portugal, elas teriam fugido para a Argentina.
Muito mais do que aconteceu com as duas, diante de versões desencontradas, especialmente depois da descoberta do disfarce, está o fato de que, pela primeira vez na história, a Igreja Católica foi enganada e realizou o casamento de duas mulheres, contra todos os seus dogmas.
É nesse aspecto que o filme, que chegou a receber muitas críticas e até o pedido de proibição em países conservadores, emerge como símbolo de um acontecimento retratado como amor verdadeiro entre duas mulheres perseguidas por sua opção para levarem adiante o que seria uma convivência feliz.
Embora produzido em 2019, a filmagem em preto e branco pode ser vista como um recurso para retratar o tempo decorrido entre a história real e uma época em que ainda não é muito colorido o destino das relações homoafetivas, diante das reações em sociedade.
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