destaque a dama do lotação

Quem não conhece a controvertida obra de Nélson Rodrigues pode comparar o filme A Dama do Lotação e a sensualidade de Sônia Braga, belíssima no ano de produção do filme (1978), a algumas das frequentes pornochanchadas exibidas na época.

A crítica de quando o filme começou a ser exibido chegou a atribuir ao roteirista e diretor Neville D’Almeida parte da responsabilidade por não ter traduzido no cinema o que mais Nélson Rodrigues destacava em sua obra: a hipocrisia da sociedade brasileira.

A Dama do Lotação e a sensualidade de Sônia Braga

Obviamente, na época do seu lançamento, a era da pornochanchada não poderia deixar de fora a sensualidade, razão mais do que suficiente para fazer de Sônia Braga a protagonista.

Nélson Rodrigues não se destacou apenas pelos seus textos impecáveis, mas sobretudo por suas conhecidas frases que são citadas até os dias atuais.

Uma delas é a emblemática que atira na cara dessa hipocrisia a sentença segundo a qual o dinheiro compra tudo, “até o amor verdadeiro”.

A Dama do Lotação e a irresistível sensualidade de Sônia Braga

Como definir Nélson Rodrigues? Como um profundo conhecedor da alma brasileira, que se revoltava com as críticas ao esporte mais assistido no Brasil e mais verenado como o melhor do mundo, atribuindo aos críticos o complexo de vira-latas incapaz de  reconhecer a genialidade de pelés e garrinchas?

Ou como um ácido e mordaz frasista capaz de pronunciar coisas como nem toda mulher gosta de apanhar; só as normais?

Em tempos como os atuais, em que o politicamente correto acaba sendo justificável em meio à enxurrada de mentiras propagadas por meio das fake news, o jornalista, dramaturgo, e tudo o mais que pôde ser, não queria dizer, evidentemente, que as normais são as que gostam de apanhar. Mas sim que essa suposta normalidade é que considera normal que mulher apanhe do malandro.

A dama e o drama

Tanto que há uma versão, digamos, mais atual para esse bordão, que consiste em sentenciar que mulher de malandro gosta de apanhar.

Não havia, portanto, como fazer com que A Dama do Lotação escapasse de tantas controvérsias, especialmente por parte do espectador médio, que acabou classificando o filme como pornochanchada devido à sensualidade explícita de Sônia Braga, na flor da idade, como musa em que se transformou, internacionalmente.

A Dama do Lotação conta a história fictícia (ou será verdadeira?) de Solange, uma mulher casada que começa a ter aventuras amorosas nos trens lotados do Rio de Janeiro.

A dama e o drama

As avaliações da crítica em relação ao filme foram bastante polêmicas na época de seu lançamento. Enquanto havia os que elogiaram a atuação da protagonista Sônia Braga, por sua interpretação sensual e provocante, muitos críticos apontaram problemas no roteiro e na direção do filme, considerando que Neville D’Almeida não conseguira captar a complexidade dos personagens e das questões abordadas na obra de Nelson Rodrigues.

Além disso, houve também quem apontasse a falta de fidelidade do filme em relação à obra original de Nelson Rodrigues.

Embora a história central seja mantida, muitas das nuances e camadas da trama foram simplificadas ou suprimidas, o que pode ter prejudicado a profundidade e a complexidade da história.

A Dama do Lotação e a sensualidade de Sônia Braga numa cena com Nuno Leal Maia

No geral, no entanto, A Dama do Lotação ainda é considerado um filme importante na história do cinema brasileiro, tanto pela temática polêmica quanto pelo talento da atriz Sônia Braga.

Não fosse um destaque na cinematografia nacional, certamente não permaneceria no catálogo da Globo Play.

Há quem o assista buscando essa sensualidade exuberante. E quem busque entender o universo do ainda hoje lembrado e venerado Nélson Rodrigues, sem dúvida o mais polêmico dos escritores brasileiros de todos os tempos.

Sobre o Autor

Gerson Menezes
Gerson Menezes

O objetivo do Autor não é o de concentrar-se na linguagem rebuscada do tecnicismo cinematográfico, mas de apresentar o que há de melhor (ou de pior) na filmografia nacional e internacional, e concentrar-se no perfil dos personagens. As análises serão sempre permeadas pela vertente do humanismo, que, segundo o Autor, é o que mais falta faz ao mundo em que violência e guerra acabam compondo o cenário tanto dos filmes como da realidade de inúmeros países, entre os quais o Brasil.

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