As risadas com Luís Buñuel em filme de destaque

São memoráveis as risadas com Luís Buñuel.  E não eram só minhas. O genial diretor espanhol me fez rir muito quando comecei a ensaiar os primeiros passos como aficionado do cinema. 

Seu filme O Discreto Charme da Burguesia, de 1972, é a mistura perfeita de humor e crítica social com toques de mordacidade e ironia irresistíveis.

Belle de Jour

Surrealismo e ironia como marcas de Buñuel

Luís Buñuel é, na minha opinião, um dos cineastas mais emblemáticos e provocadores (no bom sentido) da história do cinema.

Pode-se dizer que sua obra cinematográfica atravessou gêneros, estilos e fronteiras culturais.

Nascido em 22 de fevereiro de 1900, na pequena cidade de Calanda, Província de Teruel, na Espanha, Buñuel cresceu em uma família tradicional católica.

Foi essa influência que mais tarde seria desconstruída e ironizada em muitas de suas obras.

Ele foi um pioneiro do surrealismo no cinema, colaborando com artistas como Salvador Dalí e Federico García Lorca durante sua juventude.

Essa experiência moldou sua perspectiva criativa e lhe deu uma visão singular sobre a arte cinematográfica.

Impacto inicial em 1929

O começo de sua carreira foi marcado pelo impacto de seu curta-metragem de estreia, Un Chien Andalou (1929), realizado em parceria com Salvador Dalí.

Considerado um marco do cinema surrealista, o filme era conhecido por suas imagens chocantes e aparentemente desconexas, como a icônica cena de um olho sendo cortado por uma navalha.

Logo em seguida a essa estreia polêmica, Buñuel dirigiu L’Age d’Or (1930), outra obra surrealista que causou um escândalo devido às suas críticas à religião e à burguesia.

Isso fez com que ele tivesse que enfrentar a proibição de seus filmes em vários países, por décadas.

Desafiando normas e convenções

Ao longo de sua carreira, Buñuel demonstrou um talento notável para unir elementos do surrealismo com narrativas acessíveis, sem nunca abandonar sua capacidade de desafiar normas e convenções.

Ele transitou entre diferentes contextos culturais e cinematográficos, dirigindo filmes na Espanha, no México, na França e nos Estados Unidos.

Durante sua estadia no México, onde se estabeleceu na década de 1940, Buñuel produziu algumas de suas obras mais icônicas.

Entre elas podemos relacionar Los Olvidados (1950), retratando de forma crua a vida nas favelas da Cidade do México.

O filme foi inicialmente mal recebido em seu país de adoção, mas ganhou aclamação internacional, incluindo o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes.

Abismos de Paixão
Abismos de Paixão

Realidade e fantasia

Podemos apontar outro destaque dessa fase: El (1953), uma análise psicológica de um homem obcecado pelo ciúme e pela paranoia.

Essa habilidade em explorar as complexidades da psique humana, muitas vezes misturando realidade e fantasia, tornou-se uma das características definidoras do trabalho de Buñuel.

No entanto, nem todos os seus filmes tiveram o mesmo sucesso.

Obras como Abismos de Pasión (1954), uma adaptação de O Morro dos Ventos Uivantes, enfrentaram recepção morna.

No entanto, depois de algum tempo, passou a figurar entre as obras reavaliadas com maior apreciação por parte dos críticos.

Viridiana
Viridiana

Ascensão nos anos 1960

Buñuel voltou ao cenário europeu nos anos 1960, iniciando uma das fases mais aclamadas de sua carreira.

Nesse período, dirigiu clássicos como Viridiana (1961), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Este filme causou grande controvérsia devido à sua crítica à hipocrisia da moral cristã e às instituições religiosas.

Em muitos países, foi censurado e rotulado como blasfemo, o que não impediu sua consagração como uma das grandes obras-primas do cinema mundial.

A Bela da Tarde
A Bela da Tarde

A musa em filme sensual

Depois de Viridiana, Buñuel realizou outros filmes igualmente notáveis, como Belle de Jour (1967), estrelado por Catherine Deneuve, que se tornou uma sex symbol em sua fase de ouro.

No Brasil, com título em Português, A Bela da Tarde também acabou sendo inserido entre seus maiores sucessos.

O roteiro provocante retratava os desejos ocultos e a vida dupla de uma dona de casa burguesa que se tornava prostituta durante as tardes, mesclando erotismo e surrealismo em uma narrativa hipnotizante.

Assisti a esse filme e ao já citado O Discreto Charme da Burguesia (1972), ainda muito jovem, atraído pela filmografia diferente de tudo o que eu vira até então.

No caso de O Discreto Charme da Burguesia, estamos falando de uma comédia surreal que satirizava os costumes da classe alta, usando um estilo marcadamente irônico e mordaz.

 O filme ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, consolidando a fama de Buñuel, ainda mais, como um dos maiores cineastas de todos os tempos.

As risadas com Luís Buñuel são memoráveis
O Discreto Charme da Burguesia

A burguesia hipócrita

Em O Discreto Charme da Burguesia, Buñuel explora a ideia de um grupo de burgueses que, constantemente, tenta realizar um jantar, mas essa intenção é interrompida por situações absurdas e surreais.

O roteiro, dirigido com brilhantismo, é uma crítica ácida à superficialidade e à hipocrisia da elite, utilizando situações cômicas e oníricas para desmantelar as convenções sociais.

A narrativa fragmentada e os elementos de sonho que se confundem com a realidade reforçam a sensação de instabilidade, uma característica recorrente na obra de Buñuel.

Esse obscuro objeto do desejo
Esse obscuro objeto do desejo

O diretor das controvérsias

Ao longo de sua carreira, Buñuel foi alvo de críticas e elogios em igual medida.

Seus detratores frequentemente o acusavam de ser excessivamente provocador ou de abraçar um estilo de narrativa que poderia parecer confuso ou pretensioso.

No entanto, seus admiradores destacavam sua coragem em abordar temas controversos, como religião, sexualidade e hipocrisia social, de maneira que poucos ousavam fazer.

Ele foi amplamente elogiado por sua habilidade em combinar imagens oníricas e simbolismo, com uma narrativa aparentemente simples, criando camadas de significado que convidavam os espectadores à interpretação.

Luís Buñuel permaneceu ativo até o final de sua vida, dirigindo filmes que continuaram a desafiar e a encantar.

Sua obra final, Esse Obscuro Objeto do Desejo (1977), explorava as complexidades do desejo e da obsessão, consolidando ainda mais sua reputação como mestre do surrealismo e da narrativa cinematográfica.

Um legado indiscutível

Buñuel faleceu em 29 de julho de 1983, deixando um legado inigualável e uma filmografia que continua a ser estudada e celebrada em todo o mundo.

A importância de Luís Buñuel para o cinema não pode ser subestimada.

Ele se consolidou, sem dúvida, como um artista que desafiou normas, provocou reflexão e redefiniu os limites do que o cinema poderia ser.

Suas obras permanecem como testamento de uma mente inquieta, sempre em busca de novos meios de expressar as complexidades da condição humana e da sociedade em que vivemos.

Em resumo: foi sobretudo um artista da arte e da provocação, adotando um estilo inigualável entre os geniais diretores que fazem parte de uma boa fase do cinema.

Como dissemos de início, são memoráveis as risadas com Luís Buñuel. Entre as melhores lembranças está a imagem dos ricaços constrangidos diante da constatação de que as trutas servidas à mesa estavam apodrecidas.

Ou, como os próprios burgueses diziam, diante do aroma característico: Las truchas están podridas.

Haveria alguma mensagem implícita dele em relação à burguesia que ele retratava no filme?

O que você, caro leitor, acha disso?

Você já viu algum filme de Buñuel?

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Sobre o Autor

Gerson Menezes
Gerson Menezes

O objetivo do Autor não é o de concentrar-se na linguagem rebuscada do tecnicismo cinematográfico, mas de apresentar o que há de melhor (ou de pior) na filmografia nacional e internacional, e concentrar-se no perfil dos personagens. As análises serão sempre permeadas pela vertente do humanismo, que, segundo o Autor, é o que mais falta faz ao mundo em que violência e guerra acabam compondo o cenário tanto dos filmes como da realidade de inúmeros países, entre os quais o Brasil.

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