Quando eu estudava no chamado ginasial, lá pela longínqua década de 60, havia uma linda jovem que era muitíssimo minha amiga e que foi quem me avisou: os Beatles vêm a Brasília.
É lógico que era brincadeira. Mas, não deixava de ser verdade: se os Beatles não vêm a Brasília, o cinema traz o quarteto pra gente assistir.
Não vou dizer o nome da minha amiga querida, porque, depois de tantos anos, não sei onde ela está, se está casada ou o que fez da vida. Só sei que tinha, na época, um namorado ultra ciumento.
Num desses dias em que tive que me afastar para me recuperar de uma lesão na perna, demorei a voltar às aulas. Quando retornei e ela entrou na sala, me viu sentado diante da mesa escolar, abriu um enorme sorriso e veio conversar comigo.
Depois de adulto eu passei a gostar mais das morenas, mas essa minha amiga queridíssima era loira sem tinta, cabelos lisos e longos, e um rostinho de estrela de cinema. Linda, com todas as letras.
Foi ela que anunciou que os Beatles viriam a Brasília. “Vamos nos encontrar no cinema. No dia que você for, me avise”, fez ela o pedido irresistível.
Eu já sabia no que ia dar aquela tentativa, e não deu outra. Quando eu telefonei quem atendeu, obviamente, foi quem não deixava ela atender a nenhum telefonema. E a resposta foi a que eu previra desde quando peguei no telefone, disquei e perguntei se ela estava.
– Não – e desligou, sem me dar a chance de dizer nem sequer quem eu era.
Alguém se esquece de um episódio como este na vida? Não é o meu caso. E me lembro ainda hoje que o filme era Help, lançado em 1965. E o cinema era o antigo Cine Bruni.
Fui assistir sem minha amiga, porque, diante da rispidez do ciumento, não pude saber em que dia e horário ela iria.
Isso tem tanto tempo que nem sei se a rede Bruni, bastante grande naqueles anos de cinema sem streaming, ainda existe.
Tentei resgatar uma foto da época, mas só consegui uma imagem na internet de um dos cinemas da rede no Rio de Janeiro.
Help teve cenas filmadas em Londres, nas Bahamas e na Áustria. E, obviamente, aproveitando a estrondosa fama dos Beatles, nem precisaria de um grande enredo.
Não foi o primeiro filme dos Beatles. Um ano antes, lançaram A Hard Day’s Night, cuja produção foi mais barata do que Help, filmado a cores.
Help conta uma historinha de perseguição dos Beatles pelos integrantes de um grupo indiano que queriam, a todo custo, o anel que o baterista Ringo usava.
Eu já era, àquela época, um apaixonado pelas músicas dos Beatles e por seus arranjos musicais imperdíveis. E também por bateria, um instrumento que consegui comprar décadas depois, quando já curtia o meu primeiro casamento.
Eu morava num minúsculo apartamento e a bateria ocupava bom pedaço da sala.
Cheguei a ter algumas bandas de rock e MPB, mas nunca minha amiga do ginásio me viu tocar.
Ela já não estava mais em Brasília e eu nem tinha ideia de por onde ela andava… Certamente, sempre sob a vigilância do namorado ciumentíssimo, com quem não sei também se ela acabou se casando.
Ao contrário dele, eu não tinha ciúmes dela.
Hoje, sinto apenas saudades das conversas carinhosas que tínhamos no pátio da escola.
Se ela um dia acessar este meu site e ler este relato, digo apenas que lhe mando um beijo.
E, desta vez, o ciumento não pode me impedir.
Talvez só possa gritar: Help!
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