Um filme ruim não precisa de bons atores. Nem de bons roteiros. Nem de espectadores. Tudo se resume a Cinquenta Tons de Liberdade de não assistir.
Uma característica de todos os filmes dessa trilogia enfadonha, que encanta garotões imberbes e beberrões onanistas, é que nenhuma das 3 películas precisa também de coerência.
A jovem se casa com o bilionário. O que pressupõe algo que todos já sabem (menos ela?): que a noiva já convive com ele, pelo menos, por um tempo razoável. E, ainda assim, se surpreende com o fato de ele ser dono de um jatinho…?
“Isso tudo é seu”, indaga ela quando vão decolar para a lua de mel.
“É nosso”, revela o bilionário, numa sequência que impressiona (ironicamente falando…) pela criatividade e carga dramática e inesperadamente filosófica.
Genial, terão sussurrado os onanistas embevecidos.
As cenas de ciúme começam na praia
Provavelmente são os mesmos que devoraram o livro, que virou best-seller por causa desses carentes que transformaram tudo isso numa trilogia cinematográfica.
É lógico que o pré-título (desculpem o neologismo) cinquenta tons, de alguma coisa que acaba não sendo nada, é mera jogada publicitária para lembrar:
Olha só: é a sequência…Chegou mais um à telona
Pré-título que, a propósito, foi aproveitado pelos oportunistas de sempre, para produzirem pretensas obras com os mesmos tons…
Mal comparando: a surpresa diante do jatinho do ricaço é como a noiva de um ciclista tricampeão mundial se surpreender com o fato de seu amado possuir uma bicicleta da melhor marca, e de qualidade superior à daquelas que os ciclistas de fim de semana costumam usar para pedalar sem as exigências de uma disputa acirrada.
O primeiro filme dessa trilogia já deixa evidente que o roteirista não prima por coerência, e que despreza a lógica, por mais elementar que seja.
O sadomasoquista atrai para seu bunker erótico a mocinha ingênua, que acaba se impondo – em tempo recorde – a ponto de decidir se a relação vai ter ou não continuidade.
Eis um caso de maturidade precoce, tão a jato quanto a suposta novidade do bilionário pronto para decolar…
Nessa terceira etapa da trilogia, o filme se desenrola com os mesmos elementos de sempre: nudez e rompantes de ciúmes quando até mesmo seios à mostra acontecem em público, na praia, onde todas as mulheres fazem topless.
Outra marca registrada é a permanente tentativa da agora esposa em se impor, para em seguida ceder. Ou seja: são Cinquenta Tons de Liberdade de viver num ambiente luxuoso sem poder levar adiante a vida que gostaria de viver. Inclusive profissionalmente. E acabar concluindo que sexo com muito dinheiro e luxo é que dá os tons ideais…
Cinquenta Tons de Liberdade procura prender o espectador com cenas de suspense
Para buscar transformar o filme em algo menos enfadonho, a alternativa foi a de misturar cenas de nudez, ciúmes e cobranças frequentes com o gênero ação e com um pretenso suspense.
Cria-se, então, a trama representada pelas constantes ameaças de um ex-chefe, das quais seria plenamente possível escapar mediante uma simples escuta telefônica…
… ainda mais no caso de quem está casada com um bilionário capaz de contratar os melhores advogados do mundo.
Resta o consolo, a quem já está cansado de assistir, de tentar resistir mais um tantinho, para saber no que tudo aquilo vai dar.
Sinceramente falando, a maior dificuldade nem foi a do roteirista ou do diretor em fazerem um filme chato. Porque isso eles conseguiram, sem nenhuma dificuldade.
Dificuldade mesmo consiste em assistir ao filme até o final.
Daí que a única verdade que prevalece é a livre opção, para o espectador de Cinquenta Tons de Liberdade, de não assistir depois que a paciência se esvai.
Só há mais alguns perfis de espectadores que aguentam ir até o final: os que ainda conseguem rever, num filme chato, situações que já assistiram em uma infinidade de outros filmes;
Os que ainda conseguem ver alguma graça em peitos e bundas entremeadas por práticas sadomasoquistas que teriam sua origem nas mágoas em relação à própria mãe.
E os que, por obrigação profissional, têm que assistir até a última cena, por mais que isso lhes pareça demasiadamente enfadonho.
Pois então, quer assistir? Assista!
Mas você pode fazer prevalecer, de pleno direito, seus Cinquenta Tons de Liberdade de não assistir.
Pelo menos do ponto em diante em que não aguente mais tanta mesmice.
Cinquenta tons de liberdade (Fifty Shades Freed)
Roteiro: Niall Leonard
Direção: James Foley
Produção: EUA
Estreia no Brasil: 2018
No elenco:
Jamie Dornan: Christian Grey
Dakota Johnson: Anastasia Steele
Luke Grimes: Elliot Grey
Brant Daugherty: Sawyer
Arielle Kebbel: Gia Matteo
Eric Johnson: Jack Hyde
Rita Ora: Mia Grey
Tyler Hoechlin: Boyce Fox
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