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Seria exagero cobrar do documentário apresentado pela Netflix alguma novidade sobre o cruel assassinato da menina Isabella Nardoni. O que se pode dizer é que Isabella: O Caso Nardoni fica sem respostas. Pelo simples e óbvio fato de que essas respostas jamais foram dadas.

Isabella o caso Nardoni fica sem respostas

Para quem não se lembra (se é que isso é possível), a menina Isabella foi jogada, na noite de 29 de março de 2008, do sexto andar de um prédio em São Paulo, quando tinha apenas 5 anos de idade, o que lhe custou a vida.

Ela estava em companhia do pai, Alexandre Nardoni, e da madrasta, Anna Carolina Jatobá (foto acima), condenados pela Justiça, respectivamente, a 31 e a 26 anos de prisão, em regime fechado.

Isabella foi jogada do quinto andar

Eles voltavam das compras em companhia, ainda, de dois filhos do casal, e Isabella (fotos acima) – segundo foi dito – não estava bem, o que teria motivado o pai a levá-la até o apartamento assim que chegaram ao prédio.

O documentário apresenta depoimentos de juízes, jornalistas, advogados, peritos, do promotor, de parentes dos acusados, da mãe da vítima e das pessoas envolvidas na investigação do lamentável acontecimento, que teve ampla cobertura da Imprensa.

Isabella o caso Nardoni fica sem resposta e teve grande repercussão

Há uma acusação permanente, entre os críticos, quanto ao que teria se tornado uma espetacularização do caso, devido à presença constante dos veículos de comunicação, acompanhando todos os detalhes da investigação.

Mais uma vez, culpa-se a janela pela existência da paisagem, como já disse, certa vez, um diretor de TV. Afinal de contas, a Imprensa acompanha aquilo que interessa ao público. E, se não acompanhar, será – seguramente – acusada de omissão em sua missão de noticiar os acontecimentos.

Muita repercussão

Na verdade, essa apontada espetacularização decorre da imensa repercussão do caso, pela sua gravidade. E ainda pela tendência da população, em geral, de antecipar-se a qualquer veredito jurídico, recorrendo a prejulgamento dos acusados.

Como dissemos de início, na nossa avaliação, o documentário Isabella: O Caso Nardoni fica sem respostas, não por culpa da Imprensa (antes que a culpem, também, por isso) mas sim pelo óbvio fato de que os envolvidos não forneceram essas respostas até hoje.

Tanto acusação quanto defesa foram ouvidas no documentário, de forma – diríamos – democrática.

Isabella o caso Nardoni culminou com a condenação do pai e da madrasta da menina

Fazendo um balanço a partir do que pode ser visto nessa produção da Netflix, as respostas só poderiam ter sido dadas pelos envolvidos, o que não aconteceu até hoje. E que talvez jamais aconteça.

O advogado de defesa, numa das entrevistas, levanta a hipótese de que, para livrar-se da pena, se o pai da criança fosse realmente o culpado, a madrasta o teria delatado para não ser condenada junto com ele.

Só que, como sempre, há o outro lado da questão: essa possível confissão acusatória da madrasta de Isabella pode não ter ocorrido exatamente por haver, possivelmente, cumplicidade entre os acusados.

Anna Jatobá é presa

Há também revelações de que Anna Jatobá nutria forte rejeição pela pequena Isabella, filha da ex-mulher de Alexandre Nardoni.

A indagação do advogado que defendeu o casal não pode dar origem à suposição de que Anna Jatobá (que estaria sofrendo com sintomas de depressão), num momento de contrariedade e de desespero, tenha jogado Isabella pela janela? E que o marido estaria encobrindo o crime, razão pela qual ela não poderia culpá-lo?

São apenas hipóteses? Certamente que sim. E quem pode ter certeza do que aconteceu, a não ser o casal, que estava na cena do crime?

Afinal de contas, hipóteses são as únicas coisas que surgem quando há um caso que, segundo se comenta, pode não ter sido devidamente esclarecido. E que, talvez, jamais seja. (Veja banner ao final deste texto)

Nardoni insiste na presença de um ladrão na cena do crime

No entanto, há uma frase esclarecedora de uma das pessoas ouvidas no documentário: pode-se duvidar, reclamar e remexer no caso o quanto se quiser, mas o que ninguém conseguiu, durante toda a investigação, foi exatamente tirar o casal da cena do crime.

Há, no entanto, um fato nebuloso que, como todos os demais, permaneceu sem explicação.

Nas proximidades do prédio havia uma obra, que teria sido invadida mediante a parcial remoção de um dos tapumes que serviam para cercar o local. E nesse local costumava dormir um dos trabalhadores da obra.

Inicialmente, foi confirmada essa invasão (segundo mostra o documentário, inclusive com imagens). Após o depoimento do trabalhador à polícia, tudo foi negado, inclusive a invasão ao terreno da obra. Por quê?

Isabella: o caso Nardoni fica sem respostas. Mas não para a Promotoria

Isabella o caso Nardoni fica sem resposta mas a promotoria alega certeza dos culpados

Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acusados e condenados, sempre se limitaram a declarar-se inocentes. Mas sem apresentarem versões consistentes que merecessem total credibilidade, segundo a promotoria.

Alexandre Nardoni relata que um suposto ladrão invadira o apartamento. E que foi esse invasor que teria jogado sua filha pela janela e depois se evadido do local.

Ao mesmo tempo, ele diz que foi deixar Isabella no apartamento e em seguida desceu para ir pegar os dois filhos no carro, que estariam esperando junto com a mãe, Anna Carolina, para então subirem ao apartamento.

A perícia faz contestações a essa informação de Alexandre Nardoni, inclusive no que se refere ao tempo decorrido do momento em que ele subiu para deixar Isabella no apartamento e em seguida retornar ao carro para então pegar os dois outros filhos e a madrasta de Isabella.

Peritos colocam dúvidas em relação ao relato do casal

Segundo a perícia, esse tempo foi cronometrado e seria insuficiente para o ladrão arrombar a porta, invadir o apartamento, cortar a tela da janela e jogar Isabella.

Não dá para apresentar aqui, por óbvia insuficiência de espaço, um relato de todas as contradições e dúvidas que teriam surgido durante as investigações, com contestações de parte a parte (defesa e acusação).

Muitas dessas contradições e polêmicas surgidas estão presentes no documentário. Inclusive a de que o apartamento não tinha sinais de arrombamento e que nada havia sido roubado.

O certo é que, se foi curto demais o tempo entre a ida de Alexandre Nardoni ao apartamento, para deixar Isabella, e o seu retorno ao carro, e em seguida ao imóvel, conforme a cronometragem feita pela perícia, seria lícito acrescentar inúmeras perguntas a todas as dúvidas que pairam sobre o caso:  

  • Que interesse teria esse suposto ladrão em jogar a criança pela janela?
  • Como Alexandre Nardoni aponta a invasão de um ladrão, se não houve arrombamento no imóvel, segundo a investigação constatou, e nada foi roubado?
  • Se ele não estava no apartamento, no momento da suposta invasão, como pôde apontar que se tratava de um ladrão?
  • Por que insistia em perguntar “se já tinham localizado o ladrão”, o que levantou suspeitas de uma das peritas?
  • Foi uma iniciativa desse suposto meliante cortar a tela protetora da janela para então jogar Isabella, em tão pouco tempo? Por que razão, se ela estaria dormindo?
  • Se esse suposto meliante quis agredir alguém dentro do apartamento, não seria mais crível que tentasse agredir os adultos que chegassem e o surpreendessem na tentativa de roubo, em vez de uma criança de apenas 5 anos (ou de qualquer idade que essa criança tivesse)?
Forte presença da Imprensa

Isabella: O Caso Nardoni fica sem respostas, mais uma vez. Mas é possível fazer mais perguntas e algumas afirmações.

  • Quem mais sofreu, além da mãe de Isabella (foto a seguir), foi a própria criança, não apenas em decorrência de ter sido arremessada da janela, como também devido às agressões físicas que teria sofrido, antes mesmo do terrível assassinato.
  • Será que, mesmo diante de tantos casos extremamente dramáticos, que ocorrem no Brasil e no mundo, vitimando crianças, os adultos jamais aprenderão que uma criança deve sempre ser tratada com carinho e respeito, o que irá, inclusive, se refletir, positivamente, em sua personalidade e comportamento?
  • Quando se fará um real programa permanente de conscientização da população contra prejulgamentos, um dos principais fatores que levam à espetacularização e aumentam o risco de injustiças ou de indefinições?
A mãe de Isabella Nardoni em sofrimento

É fato que faltam respostas e que o comportamento de Alexandre Nardoni levantou suspeitas, por uma série de questões mostradas no documentário.

Mas, ainda assim, nenhum prejulgamento (como o do público, agitado, apontando os acusados como assassinos antes do veredito) jamais contribuiu, nem contribuirá, para melhor andamento de qualquer investigação.

Resta como única esperança que casos terríveis como esse, ou similares, jamais voltem a acontecer, servindo ao menos de alerta e de conscientização que resultem em lição para a dita humanidade, que precisa – em resumo – se humanizar.



Isabella: O Caso Nardoni

Gênero: documentário

País: Brasil

Direção: Micael Langer e Cláudio Manoel

Roteiro: Felipe Flexa, Micael Langer e Cláudio Manoel

Estreia: 17 de agosto de 2023



Sobre o Autor

Gerson Menezes
Gerson Menezes

O objetivo do Autor não é o de concentrar-se na linguagem rebuscada do tecnicismo cinematográfico, mas de apresentar o que há de melhor (ou de pior) na filmografia nacional e internacional, e concentrar-se no perfil dos personagens. As análises serão sempre permeadas pela vertente do humanismo, que, segundo o Autor, é o que mais falta faz ao mundo em que violência e guerra acabam compondo o cenário tanto dos filmes como da realidade de inúmeros países, entre os quais o Brasil.

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