O Cinema Novo e a era underground, que o sucedeu, fazem parte da instigante história do cinema brasileiro.
O chamado Cinema Novo foi um movimento cinematográfico que surgiu no Brasil na década de 1960 e se estendeu até o final dos anos 1970.
Ou seja: em pleno período da ditadura militar, o que obrigou os cineastas a conviverem com a censura ferrenha. E, tantas vezes, burra.
Depois da era batizada como Cinema Novo surgiram novos movimentos e tendências cinematográficas, como o cinema de autor e o cinema underground (leia mais adiante).
O movimento do chamado Cinema Novo tinha como objetivo renovar a produção cinematográfica nacional.
Era a busca por uma identidade própria e uma abordagem mais crítica e realista dos problemas sociais brasileiros.
Dentre os cineastas que se destacaram nesse período está Glauber Rocha, que acabou se transformando em protagonista de uma polêmica, na época, envolvendo os militares
Polêmicas à parte, Glauber Rocha desponta, de qualquer maneira, entre os mais destacados e importantes cineastas da época.
Vamos lembrar, a seguir, os principais destaques do Cinema Novo e algumas das obras mais marcantes daquele período de inquietações e censura:
Glauber Rocha – Considerado o principal expoente do Cinema Novo, Glauber Rocha dirigiu filmes como Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), Terra em Transe (1967) e Câncer (1972). Seus filmes apresentavam uma estética experimental e uma narrativa simbólica que denunciava a opressão e a exploração do povo brasileiro.
Nelson Pereira dos Santos – Diretor de Vidas Secas (1963), um dos filmes mais emblemáticos do Cinema Novo, que retrata a vida miserável de uma família de retirantes nordestinos. Também dirigiu Rio, Zona Norte (1957) e Memórias do Cárcere (1984).
Ruy Guerra – Dirigiu Os Fuzis (1964), que aborda a violência da repressão policial em um cenário de conflito agrário. E também O Veneno da Madrugada (2005) e Havana, Ano Zero (1974).
Leon Hirszman – Diretor de Eles Não Usam Black-tie (1981), que retrata a luta dos trabalhadores da construção civil por melhores condições de trabalho. Também dirigiu Imagens do Estado Novo (1990) e ABC da Greve (1990).
Joaquim Pedro de Andrade – Diretor do renomado Macunaíma (1969), uma adaptação do romance homônimo de Mário de Andrade que apresenta uma visão irônica e subversiva da identidade nacional brasileira. Também dirigiu O Padre e a Moça (1965) e Guerra Conjugal (1975).
Um pouco mais sobre os filmes de maior sucesso
Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha – Um épico que retrata a luta de um casal de sertanejos contra o latifúndio e a opressão.
Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos – Baseado no livro homônimo de Graciliano Ramos, o filme mostra a dura vida de uma família de retirantes nordestinos.
Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha – Um filme político e alegórico que denuncia a corrupção e a manipulação da mídia na política brasileira.
Os Fuzis (1964), de Ruy Guerra – Um drama que retrata a violência da repressão policial em um cenário de conflito agrário.
Eles Não Usam Black-tie (1981), de Leon Hirszman – Uma adaptação da peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri que retrata a luta dos trabalhadores da construção civil por melhores condições de trabalho, e as tensões políticas e familiares decorrentes dessa luta. O filme apresenta uma crítica à exploração do trabalhador e aos conflitos de classe na sociedade brasileira.
Novos movimentos e tendências após o Cinema Novo
Após a era do cinema novo brasileiro, que teve seu auge nas décadas de 1960 e 1970, o cinema brasileiro passou por diversas transformações.
Na década de 1980, surgiram novos movimentos e tendências cinematográficas, como o cinema de autor e o cinema underground.
Nesse período, diretores como Walter Hugo Khouri, João Batista de Andrade e Suzana Amaral se destacaram por produções com um enfoque mais intimista e reflexivo.
Na década de 1990, o cinema brasileiro viveu um período de grande efervescência, com o surgimento da chamada geração dos jovens realizadores, que trouxe uma nova perspectiva para o cinema nacional.
Nomes como Fernando Meirelles, Walter Salles, Daniela Thomas e Andrucha Waddington ganharam destaque internacional com filmes como Cidade de Deus (2002), Central do Brasil (1998) e Lavoura Arcaica (2001).
Na década de 2000, o cinema brasileiro passou a ter um maior investimento e apoio governamental, o que resultou em uma maior produção e circulação de filmes nacionais.
Além disso, surgiram novas temáticas e narrativas, que ampliaram a diversidade e a representatividade no cinema brasileiro.
Filmes como Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert, e Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, foram duas demonstrações dessa diversidade temática e narrativa.
Nos últimos anos, o cinema brasileiro tem se dedicado mais a produções que abordam questões sociais e políticas relevantes, como a violência urbana, a desigualdade social, o racismo e a questão indígena. Filmes como Tropa de Elite (2007), de José Padilha, O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho, e A Febre (2021), de Maya Da-Rin, são exemplos disso.
O cinema brasileiro conquistou reconhecimento internacional, com filmes selecionados para importantes festivais de cinema, como Cannes e Berlim, e ganhando prêmios em importantes premiações, como o Oscar.
Em 2020, Democracia em Vertigem, de Petra Costa, foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário.
Em 2021, Babenco – Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou, de Bárbara Paz, foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário Internacional.
A Lei Rouanet e as mentiras
A realidade, no entanto, é que a indústria cinematográfica brasileira tem enfrentado enormes desafios.
Faltam recursos e infraestrutura, mas – ainda assim – o cinema brasileiro segue produzindo obras de grande qualidade e relevância, contribuindo para a construção de uma identidade cultural nacional e para a representatividade e diversidade no cinema mundial.
Como se competir com a força de Hollywood não bastasse, as polêmicas reinantes na política se encarregam de criar mais dificuldade.
Um dos desafios é desmistificar manipulações que são feitas em torno da chamada Lei Rouanet, cujo objetivo é o de propiciar investimentos para manifestações artísticas.
Os extremistas da direita teimam em alimentar confusões em torno da lei de apoio à cultura, como se os governos fossem obrigados a liberar fortunas para quem precisa de recursos para produzir manifestações culturais.
Ao contrário disso, a Lei Rouanet propicia que produtores, após aprovação prévia de seus projetos, recorram ao mercado em busca de verba, junto a pessoas físicas e jurídicas.
Estas, por sua vez, passam a ter direito a abatimentos no Imposto de Renda, caso financiem essas obras.
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