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Refugiados tendo que enfrentar o mar para salvar suas vidas estão entre os muitos dramas de Transatlântico, a série da Netflix que conta a história do Comitê Internacional de Resgate. Transatlântico é história real, embora permeada por episódios romanceados para não se concentrar apenas no horror da guerra.

Transatlântico é história real

 O Comitê realmente existiu e sua missão heroica foi a de conseguir que mais de 2 mil pessoas conseguissem escapar, por mar ou por terra, da França invadida, que começava a ser dominada pelas forças nazistas quando se iniciava a Segunda Guerra mundial.

O cenário é Marselha, no sul da França. Mary Jayne Gold e Varian Fry, americanos, junto com aliados de outras nacionalidades, arriscam a própria vida para conseguir que judeus, artistas e escritores fugissem da França em meio ao avanço das forças nazistas.

A americana milionária Mary Jayne usa o dinheiro que lhe é enviado de herança pelo pai para ajudar na operação, que consistia em falsificar documentos, organizar rotas de fuga e obter fundos para levar adiante as atividades do comitê.

Romances em meio à tragédia do avanço nazista

Amores em meio à crueldade da guerra

Apesar do ambiente hostil e da crueza da ofensiva dos nazistas, a série de sete episódios não inclui muitas cenas de máxima tensão e acaba intercalando os horrores da guerra com trechos do romance entre Mary Jayne Gold e o refugiado alemão Albert Hirschman.

Menos do que ressaltar, com total crueza, a tragédia que representa a ofensiva nazista (destacada em vários filmes que retratam essa época, como A Lista de Schindler), a série Transatlântico acaba retratando o lado humanista entre os personagens, com europeus brancos solidários ao sofrimento do negro que perde o irmão baleado e o romance homossexual entre Varian Fry e Thomas Lovegrove.

Há risos e festa com os personagens dançando fantasiados e comemorando o natal, as cenas de amor entre o negro e a mulher branca e passagens que parecem configurar um tapa na cara do nazismo antissemita, homofóbico, preconceituoso e racista em toda a sua crueldade.

Transatlântico e o antipático dedo duro

O inconformismo diante da posição inicial de neutralidade dos Estados Unidos em relação à Segunda Guerra fica representado pela figura do antipático e dedo-duro Graham Patterson, cuja delação acaba por resultar na prisão do africano que participava do movimento de resistência. E que acaba tendo que enfrentar uma tragédia.

Patterson se esforça também em humilhar Mary Jayne, tentando desqualificá-la como mulher por se revelar apaixonada por um homem mais jovem.

O delator Patterson é um dos que, até para salvar a própria pele, comprova que Transatlântico é história real, permeada também pela atuação de colaboradores da Gestapo entre suas próprias funcionárias, segundo revela a Mary Jayne. Inclusive como forma de pressioná-la.

Transatlântico é história real com acréscimos de personagens e histórias paralelas

Transatlântico é história real com acréscimos

Embora os criadores Anna Winger e Daniel Hendler e suas equipes tenham se deixado envolver pelo clima e pela beleza da cidade portuária de Marselha e pelas histórias que ouviram, para avançar no que seriam fatos históricos comprovados, entre os refugiados estão personagens reais.

Entre todos os artistas, intelectuais e personalidades que foram perseguidos pelos nazistas estão  o escritor Walter Mehring; o filósofo, ensaísta, sociólogo e tradutor Walter Benjamin, o escritor e poeta André Breton, os pintores Max Ernst e Marc Chagall, a influente filósofa Hannah Arendt e o pintor, escultor e poeta francês Marcel Duchamp.

Nem todos foram retratados no filme, mas fica evidente, no decorrer dos capítulos, a perseguição e as dificuldades que tiveram que enfrentar para sobreviver.

Transatlântico é história real mas há fatos paralelos e acréscimos

Eram intelectuais, artistas e pensadores respeitados na Europa, que os nazistas consideravam desqualificados, subversivos e degenerados, especialmente pelo fato de terem origem judaica. E que acabaram sobrevivendo à ofensiva nazista da época.

Também o jornalista Varian Fry, um dos que iniciaram e lideraram o movimento de fuga dos refugiados, existiu de fato. Ele morreu em 1967, aos 59 anos, nos EUA.

Mary Jayne Gold, por sua vez, a herdeira milionária que usou boa parte de sua fortuna para salvar a vida dos perseguidos pelo nazismo, nasceu em Chicago (EUA), em 1909, e morreu na França, em 1997, aos 88 anos de idade.

Todos esses personagens reais contribuem para valorizar a série histórica, por mais que elementos paralelos possam ter sido inseridos para dar o tom cinematográfico que acabou transformando Transatlântico em um dos destaques da Netflix.

Transatlântico é a história real com cenas do avanço dos nazistas

De resto, serve como mais um documento para deixar evidente que os refugiados hoje espalhados pelos mares, famintos e vendo filhos e outros parentes morrerem, estão longe de se constituírem em tragédia recente no terrível histórico de guerras pelo mundo.



Transatlântico (Transatlantic) Roteiro: Anna Winger e Daniel Hendler/ Direção: Mia Maariel Meyer, Stéphanie Chuat e Veronique Reymond/Estreia: abril de 2023.

Elenco: Gillian Jacobs (Mary Jayne Gold), Lucas Englander (Albert Hirschman), Cory Michael Smith (Varian Fry), Amit Rahav (Thomas Lovegrove), Deleila Piasko (Lisa Fittko), Corey Stoll (Patterson), Luke Thompson (Hiram), Grégory Montel (Philippe Frot), Moritz Bleibtreu (Walter Benjamin).

(Mais no quadro a seguir)

Elenco Transatlântico

Sobre o Autor

Gerson Menezes
Gerson Menezes

O objetivo do Autor não é o de concentrar-se na linguagem rebuscada do tecnicismo cinematográfico, mas de apresentar o que há de melhor (ou de pior) na filmografia nacional e internacional, e concentrar-se no perfil dos personagens. As análises serão sempre permeadas pela vertente do humanismo, que, segundo o Autor, é o que mais falta faz ao mundo em que violência e guerra acabam compondo o cenário tanto dos filmes como da realidade de inúmeros países, entre os quais o Brasil.

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