A infame Bettie Page, vítima da inocência, nasceu numa família conservadora e religiosa e teve sua imagem de modelo e atriz transformada (pela visão da época) em símbolo de pornografia.
O filme conta a história da pin-up girl mais famosa de todos os tempos, antes mesmo do surgimento da revista Playboy, em 1953.
O conservadorismo, com alto grau de hipocrisia da classe política, está retratado no contraste entre a investigação do Senado norte-americano e o sucesso da Playboy, que se tornou a revista masculina mais vendida do mundo.
Enquanto Bettie tinha sua imagem associada ao pecado e à imoralidade, a revista Playboy atingia, em seus anos de maior sucesso, a tiragem (espetacular, para a época) de 7 milhões de exemplares por mês.
Bettie vivia o conflito entre a religiosidade de sua família, a noção de culpa e pecado, e a vontade de se tornar famosa e mudar de vida.
Imatura e demonstrando inocência, ela encarou essa oportunidade de mudança ao ser fotografada por um fotógrafo amador durante um passeio pela praia
O filme retrata Bettie como uma jovem influenciável, diante dos padrões de moralidade da época e, ao mesmo tempo, da visão conservadora da religião e da hipocrisia dos políticos.
Ela não via maldade em tirar a parte de cima do biquíni, “apenas um pedaço de pano”, e acabou enveredando por um caminho que a levou a se sentir arrependida dos seus supostos pecados.
Na Flórida as modelos posavam em cores
Estamos no período entre os anos 1930 e 1950. A maior parte da película é em preto e branco. Mas as cores surgem nas cenas realizadas na Flórida (EUA), para retratar a época em que modelos como Bettie passaram a ser fotografadas em cores.
Fascinada pelas câmeras e pelo desejo de ser atriz, ela posava com naturalidade e começou a fazer poses que eram identificadas na época como fetiche. E esse fetiche levaria os homens, supostamente, à perversão.
A grande hipocrisia estava no fato de que, enquanto pessoas importantes, como políticos e juízes (entre outros), nunca tinham sua imagem associada à imoralidade, o vasto público que começava a se fascinar pelas revistas com fotos de mulheres amarradas, com meias pretas e poses tidas como pornográficas, era visto como de pervertidos.
Em sua trajetória de modelo que fascinava os homens, Bettie Pagie tornou-se vítima de sua própria inocência e acabou sendo vista como um (mau) exemplo de imoralidade, que acabaria levando alguns homens até ao suicídio, vestidos da mesma forma que modelos como ela.
Até posar com feras agitava a imaginação dos homens
Na visão da época, consumir drogas – por exemplo – era uma atitude que se esgotava na própria vítima, enquanto a apontada imoralidade das fotos teria o poder de levar a juventude ao caminho da perversão.
O filme mostra certa inocência e recato também de boa parte dos homens, que recorriam, de forma dissimulada, aos vendedores dessas publicações, mesmo com mulheres vestidas de forma a parecerem extremamente eróticas pela simples forma como posavam com suas botas e meias pretas. Ou acorrentadas umas às outras.
Isso mexia com o imaginário desses homens, tidos como devassos, com tendência de corromperem a juventude inocente e vulnerável da época.
A infame Bettie Page era vítima de sua própria inocência
A infame Bettie Page, vítima da inocência de um período da história bem retratado no filme, coloca o espectador mais reflexivo diante de um dilema.
Esse dilema é sobre se os próprios excessos de rigor das religiões, com seus padrões de moralidade, pecado e arrependimento, não acabam levando à imaturidade de jovens como Bettie Page.
Ou seja: jovens que se tornam presas fáceis de cafajestes por não verem neles nenhuma maldade, o que as leva a aceitar convites mesmo de desconhecidos criminosamente mal-intencionados.
Assista ao filme e tire suas próprias conclusões.
A infame Bettie Page (The Notorious Bettie Page)
País: EUA
Lançamento: 2005
No catálogo da HBOmax
Roteiro: Mary Harron e Guinevere Turner
Direção: Mary Harron
No Elenco:
Gretchen Mol: Bettie Page
Lili Taylor: Paula Klaw
Chris Bauer: Irving Klaw
Jared Harris: John Willie
Sarah Paulson: Bunny Yeager
Cara Seymour: Maxie
David Strathaim: Estes Kefauver
Austin Pendleton: professor de interpretação
Jonathan M Woodward: Marvin
Sobre o Autor
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