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Numa época em que nem sabiam o significado da palavra, três irmãos cometem pirataria e se dão mal. Mixed By Erry é real e atual. É real, porque conta uma história verdadeira. E atual, porque a pirataria sobrevive no tempo, embora hoje seja mais difícil combatê-la.

Moxed By Erry é real

Este é mais um bom lançamento da cinematografia italiana, incluído no catálogo da Netflix, que já começa a chamar a atenção.

O diretor e roteirista, Sydney Sibilia, é ousado a ponto de dar spoiler no próprio filme, mostrando, entre as cenas iniciais, o destino do trio.

Enrico é o protagonista de Mixed By Erry

Enrico funda a Mixed By Erry em meio ao sonho de ser DJ

Enrico Frattasio (foto), apelido Erry, menino de família muito humilde, tinha como maior sonho ser um simples DJ.

Fazia faxina numa loja de discos, enquanto batalhava pelo seu sonho, mas nunca conseguia ser levado a sério. E assistia a outros candidatos passarem à sua frente.

Exatamente por trabalhar numa discoteca, teve a ideia de começar a gravar várias faixas em fitas K7, para cultivar o gosto dos amigos pela música.

Até bicicleta de marcha era novidade na época de Mixed By Erry

Até a bicicleta de marcha era uma novidade inexplicável

Era essa a sua paixão, na cidade de Nápoles, nos anos 1980, uma época em que até a bicicleta de marchas era uma novidade que parecia inexplicável.

Que dirá, então, a nova tecnologia, que começou a substituir os chamados bolachões pelos moderníssimos CDs.

Frustrado em sua tentativa de se tornar um DJ, Erry continuou gravando suas fitas, depois que a loja de discos em que ele fazia faxina fechou.

E em seguida juntou-se aos dois irmãos, Peppe e Ângelo, para expandir seus negócios.

Deu tão certo que ele acabou fundando a Mixed By Erry, que começou a chamar a atenção a ponto de as lojas se expandirem. E os clientes se acotovelarem na disputa pelas fitas prediletas.

O pai falsificava bebidas

Enrico e seus irmãos herdaram a forma de viver do pai trapalhão

A pirataria parecia estar no sangue da família, porque o pai, para colocar comida na mesa e pagar o aluguel, falsificava bebidas e levava adiante seu negócio sem ser incomodado.

Mixed By Erry é baseado numa história real. E, entre os méritos do roteiro e da direção, está o fato de prender-se à trajetória da família, sem enrolações.

Não precisou incluir enredos paralelos nem criar firulas, porque Sydney Sibilia percebeu que a história era interessante por si mesma.

Foi o bastante inserir as cenas que acabaram retratando a violência das máfias na Itália, um acontecimento que não há como esconder na história do país da cosa nostra siciliana, que teve, entre seus mais notáveis exemplares cinematográficos, o sucesso do filme O Poderoso Chefão.

O agiota não perdoava quem não pagasse

Grandes negociatas atrás de muita grana faziam parte da rotina

As jogadas dos grandes barões para enriquecerem também são mostradas no filme, quando um fornecedor de fitas envolve o trio para fechar contrato com exclusividade, de modo a fornecer todo o material de que eles precisavam para tornar os negócios cada vez mais lucrativos.

Para seus investimentos, os irmãos tinham que recorrer ao velho agiota (foto acima), que emprestava dinheiro a juros altos. E deixava claro o que aconteceria a quem não pagasse depois de esgotado o prazo final.

As coisas começam a se complicar quando o trio de piratas, a exemplo de todos os novos ricos de origem humilde, começa a cometer extravagâncias, chamando a atenção da polícia.

Mixed By Erry é um novo êxito da Netflix pelo bom trato que a história mereceu.

Mixed By Erry mostra os irmãos em busca de novidades

Para levar adiante os negócios, a família sempre buscava novidades

A trama prende a atenção do início ao fim, com novos lances que se sucedem, sem ter sido necessário – como já frisamos – incluir firulas ou histórias paralelas para prender a atenção do espectador.

A trama é interessante por si mesma. Em primeiro lugar, por ser baseada em fatos reais. E, em segundo lugar, por tudo o que de interessante e curioso cerca a família de falsários.

Na verdade, o trio não sai como herói na história, e isso também retrata a veracidade dos acontecimentos.



Fatos inimagináveis se sucedem, com lances ilustrativos da fortuna que o trio conquistou, mas que não resultou em impunidade.

Há trechos cômicos, como a batalha do policial dedicado em desbaratar os piratas, que assim não se consideravam, comparando a diferença entre eles próprios e os piratas de tampão no olho, que usavam o símbolo de caveira nas velas, quando atuavam nos mares, assaltando navios.

Para os três irmãos, pirataria não era o termo que combinava com eles, que estavam engajados apenas em cultivar o gosto dos jovens pela música.

Deu certo mas nem tanto para os irmãos

Para os irmãos, Mixed By Erry não era pirataria

Para Erry, o objetivo fundamental era – e continuou sendo – o de se tornar um simples DJ. Algo que, como diz a velha chacota, ele acabou sendo (por vias transversais) sem nunca ter sido.

Ou seja: um desses sonhos que, por força do destino e das leis, acabou não se realizando. E que se transformou numa ilusão que até deu muito dinheiro, mas sem atingir o que ele de fato queria que acontecesse.

E que era muito mais simples, segundo ele se queixa à sua mulher, e que sempre lhe pareceu muito mais fácil de atingir: apenas tocar para as pessoas as músicas que outras pessoas fizeram.

Menos ambicioso, menos esperto, mais ingênuo, com olhar meio perdido, e sem a malícia dos outros irmãos, Erry acabou vendo suas únicas ambições, modestas, não se realizarem plenamente, como sempre sonhou.

Aliás, uma só ambição que ele sempre alimentou, não pela profissão em si, mas para cultivar o gosto de jovens, como ele próprio, pela música. Esta sim, sua verdadeira paixão.



Mixed By Erry

Roteiro e direção: Sydney Sibilia

País: Itália

Produção de 2022

Estreia: 2023

No Elenco Mixe

No elenco:

Greta Esposito: Teresa

Luigi D’Oriano: Enrico Frattasio

Adriano Pantaleo: Pasquale Frattasio

Francesco Di Leva: Fortunato Ricciardi

Emanuele Palumbo: Angelo Frattasio

Giuseppe Arena: Peppe Frattasio

Chiara Celotto: Francesca

Fabrizio Gifuni: Arturo Maria

Cristiana Dell’Anna: Marisa Frattasio

Camilo Acanfora

Salvatore Striano

Brando Improta

Adriano Saleri: Truffato

Sobre o Autor

Gerson Menezes
Gerson Menezes

O objetivo do Autor não é o de concentrar-se na linguagem rebuscada do tecnicismo cinematográfico, mas de apresentar o que há de melhor (ou de pior) na filmografia nacional e internacional, e concentrar-se no perfil dos personagens. As análises serão sempre permeadas pela vertente do humanismo, que, segundo o Autor, é o que mais falta faz ao mundo em que violência e guerra acabam compondo o cenário tanto dos filmes como da realidade de inúmeros países, entre os quais o Brasil.

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