A brutalidade, a crueldade e a covardia retratadas em imagens chocantes são comuns ao tema que jamais desaparece, por representar um trágico acontecimento que nunca pode ser esquecido. O pianista e o nazismo representam o foco central do filme O Pianista, de Roman Polanski, ele próprio uma testemunha viva dos horrores da Segunda Guerra Mundial.
Polanski morou na Polônia no período retratado no filme, que representa um testemunho da dor e da perseverança em meio ao caos da Segunda Guerra Mundial.
É um filme que transcende as fronteiras do tempo para capturar a essência da dita “humanidade” em sua forma mais crua.
Baseado na autobiografia do pianista polonês Wladyslaw Szpilman, o filme oferece uma visão profundamente comovente da devastação infligida ao povo polonês durante o Holocausto.
A história segue os passos de Szpilman, o talentoso pianista que testemunha os horrores do gueto de Varsóvia e a subsequente aniquilação de sua família e da comunidade, com a cidade transformada em ruínas.
Interpretado de forma brilhante por Adrien Brody, o personagem de Szpilman emerge como um símbolo de resiliência, encontrando na música uma fonte de esperança e resistência contra a brutalidade que o cerca.
Polanski, que compartilha, como já salientamos, laços emocionais e históricos com a narrativa, conduz o filme com muita sensibilidade, evitando os artifícios cinematográficos, para produzir uma abordagem sóbria sobre uma realidade tão cruel.
É importante frisar que o espectador estará diante de fortíssimas cenas de violência, capazes de impactar tão fortemente como muitas vistas no igualmente impactante A Lista de Schindler, de Steven Spielberg.
As cenas desoladoras que retratam, com realismo, o infame gueto de Varsóvia, onde os judeus eram constantemente humilhados e covardemente assassinados, são reproduzidas cinematograficamente com uma precisão assombrosa, fazendo com que o espectador mergulhe na atmosfera sombria da época.
Polanski viu o horror bem de perto. Nascido na capital francesa, em 1933, mudou-se com os pais, de Paris para Cracóvia, na Polônia, aos 3 anos de idade. E foi naquele país que testemunhou a tragédia de ver sua mãe sendo aprisionada para torna-se uma das incontáveis vítimas fatais dos campos de concentração no período do Holocausto.
Em meio a momentos de desespero e de desolação, destacam-se, em O Pianista, cenas de rara beleza técnica, como a emocionante interpretação de Szpilman da Balada Nº1 de Chopin, que transcende as barreiras da linguagem para comunicar a angústia e a resiliência do espírito humano.
Mas é na fusão entre a vida do protagonista e a arte que O Pianista encontra sua verdadeira força. Assim como Szpilman usa sua música como uma forma de resistência a uma realidade assustadora e cruel, o filme se torna um manifesto poderoso contra a brutalidade e a intolerância, lembrando-nos do poder transformador da arte, mesmo nos momentos mais sombrios da história.
O Pianista e o nazismo se fundem numa simbologia que se traduz no contraste entre a brutalidade das cenas protagonizadas pelos nazistas e a singeleza da arte musical, presente na soberba interpretação, ao piano, das obras de clássicos de Wagner e Mozart, compositores que também eram admirados pelos nazistas. E mais adiante vamos fazer uma observação sobre esses e outros compositores clássicos da época.
O ator Adrien Brody interpreta o pianista Wladyslaw Szpilman, já bastante conhecido, à época, que vê sua família ser brutalmente enviada ao campo de extermínio Treblinka, a caminho da morte.
A partir daí, ele perambula, solitário, pelas ruas de Varsóvia, escondendo-se onde lhe era possível escapar dos nazistas, com a ajuda de amigos que, vez por outra, aparecem para lhe mostrar novos esconderijos e lhe fornecer o pouco de alimento para uma época em que sair à rua significaria o encontro com a morte.
O paralelo entre essa brutalidade da guerra e a sensibilidade da música transparece com mais nitidez na cena em que, escondido num prédio já em ruínas, o personagem real interpretado por Adrien Brody é flagrado por um oficial nazista, que começa a interrogá-lo.
Quando o alemão a serviço do nazismo pergunta qual a profissão do homem debilitado que está diante dele, o quase irreconhecível Wladyslaw Szpilman, magro, barbudo e com o cabelo emaranhado, se revela como pianista.
O oficial nazista pede então que o homem toque alguma coisa, e lhe mostra o piano que escapou à destruição, entre os escombros. E só então, numa época em que os alemães já encaravam a realidade da derrota na guerra (passando a ser mortos pela resistência, nas ruas desertas), decide ajudar o debilitado sobrevivente.
O Pianista não é apenas um entre tantos filmes sobre o Holocausto, mas uma obra merecedora do reconhecimento que recebeu, e uma lembrança tocante da resiliência e da dignidade do povo polonês durante um dos períodos mais sombrios da história mundial.
O oficial alemão que ajudou Szpilman foi depois identificado como Wilm Hosenfeld. Já aprisionado junto aos demais alemães, ele chegou a procurar localizar o pianista, sem sucesso, numa derradeira (e frustrada) tentativa de contar com alguma ajuda, em retribuição, diante do destino que aguardava os derrotados na guerra.
Segundo relatos históricos, Władysław Szpilman não foi o único a ser poupado por Hosenfeld, que teria ajudado também a esconder judeus e vários cidadãos poloneses durante a ocupação nazista. Ele morreu na prisão aos 57 anos de idade.
Wladyslaw Szpilman, por sua vez, deu prosseguimento à sua vitoriosa trajetória como pianista, após o término da Segunda Guerra Mundial. Morreu em julho de 2000, em Varsóvia, aos 88 anos de idade.
Em respeito à História, cabe lembrar que o compositor clássico Richard Wagner, adorado pelos nazistas, era conhecido pelo seu antissemitismo, bem como outros compositores clássicos da época.
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