Destaque retorno a Seul

Em ritmo lento e quase melancólico, Retorno a Seul é história de abandono e solidão. A jovem coreana retorna ao seu país de origem, 25 anos depois de ser cedida para adoção por seus pais biológicos.

A um só tempo, o filme aborda o universo dos expatriados, das adoções e da ameaça representada pela fechadíssima ditadura da Coreia do Norte contra a democrática e desenvolvida Coreia do Sul.

Retorno a Seul é história de abandono e solidão

As Coreias foram separadas em razão exatamente do conflito, durante o qual ocorreu o maior número de doações de crianças.

O pai da jovem coreana (foto do personagem a seguir), no primeiro encontro que tiveram, diz isso a ela, explicando que a enviou para a França com a esperança de que ela tivesse “uma vida melhor”.

Alcoólatra, ele a recebe na cidade onde mora. Mas, nesse primeiro contato, não é bem aceito pela filha, que chega a se irritar em razão das constantes mensagens que ele envia para a jovem, por celular, depois que ela deixa a localidade.

O pai da jovem em Retorno a Seul numa história de abandono e solidão

O diretor e roteirista, o cambojano-francês Davy Chou, estreou com o filme Diamond Island.

Retorno a Seul é seu segundo longa-metragem.

São muitos os diálogos curtos, e Davy Chou procura passar sua mensagem dando destaque às imagens, com vários close-ups do rosto da jovem Freddie, que fica sabendo que seu nome de nascença é Yeon-hee.

O espectador do Ocidente certamente vai estranhar o modo de vida e a forma de se comportar dos orientais.

Retorno a Seul é uma história de abandono e solidão na Coreia

A jovem criada na França chega a Seul sem falar uma palavra sequer de coreano, o que se revela uma barreira, especialmente no primeiro contato dela com seu pai biológico.

Ele demonstra tristeza com o fato de ela não querer voltar para a Coreia e diz que lhe daria uma vida satisfatória e providenciaria que ela arranjasse um bom marido.


Na verdade, demonstrando não se conformar com o destino que lhe foi dado por causa da adoção, embora demonstre se dar bem com sua mãe adotiva francesa, Freddie permanece em constante busca de sua própria identidade.

A princípio, sua mãe biológica não quer vê-la, mas acaba aceitando um contato pessoal, no trecho do filme em que a emoção emerge com mais intensidade.

A despedida da jovem em Retorno a Seul numa história de abandono e solidão

Nesse constante choque de realidades que passa a vivenciar, Freddie é inconstante e demonstra comportamentos imprevisíveis, alternando ousadia e rebeldia.

Com expressão firme, passa a impressão, em certas situações, e após curtos diálogos, que vai explodir. Mas isso nunca acontece.

Na mesa com amigos, vai se servir da bebida e é advertida de que não deve se servir, mas ser servida pelos outros. Questiona o que seria um costume coreano e, desafiadora, pega a garrafa em seguida para se servir.

Amigos reunidos festejando

Rejeita presentes, detesta a data de seu aniversário e, em certo momento, diz que abrirá o presente só no dia seguinte.

E é capaz de, abruptamente, e surpreendentemente, afastar-se de uma conversa ou de um ambiente que não lhe agrada, por mais que as pessoas se mostrem – aparentemente ou supostamente – receptivas.

Seu pai fica chocado ao saber que ela se transformou numa comerciante de armas, quando então lhe é apresentada a justificativa de que seria uma forma de responder às permanentes ameaças da Coreia do Norte.

Introspecção solitária

Retorno a Seul é história de abandono e solidão, num filme com toques de tristeza e introspecção, que não é fácil de ser assistido. São modos de vida, cultura, costumes e perfis humanos muito distantes de tudo o que se vê no Ocidente.

Como ponto positivo, pode levar à reflexão sobre os caminhos que a humanidade tem percorrido, desprezando valores como humanismo, felicidade e paz, de onde resultam tantos conflitos.

Não apenas conflitos interpessoais, mas entre as nações, colocando a todos em constante ameaça de uma guerra nuclear em razão da inexplicável inclinação da raça humana dominante pela destruição, e até mesmo de aniquilamento de todo o planeta.



Retorno a Seul (Retour à Séoul)

Produção: Camboja

Coprodução: França, Alemanha, Bélgica

Ano de lançamento: 2022

Roteiro e direção: Davy Chou

No Elenco retorno a (1)

No Elenco:

Ji-Min Park: Freddie Benoit

Yoann Zimmer: Maxime

Guka Han: Tena

Oh Kwang-rok: pai biológico de Freddie

Kim Sun-young: tia biológica

Louis-Do de Lencquesaing: André

Heo Jin: avó biológica

Sobre o Autor

Gerson Menezes
Gerson Menezes

O objetivo do Autor não é o de concentrar-se na linguagem rebuscada do tecnicismo cinematográfico, mas de apresentar o que há de melhor (ou de pior) na filmografia nacional e internacional, e concentrar-se no perfil dos personagens. As análises serão sempre permeadas pela vertente do humanismo, que, segundo o Autor, é o que mais falta faz ao mundo em que violência e guerra acabam compondo o cenário tanto dos filmes como da realidade de inúmeros países, entre os quais o Brasil.

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